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Exército vai manter sargento gay preso
A corporação informou ontem que os exames médicos consideraram Laci Marinho de Araújo apto para o serviço militar
O militar continuará a responder processo por deserção e pode ser expulso do Exército; ele chorou e disse que não queria morrer
ANGELA PINHO
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Preso na madrugada de anteontem após participar de um
programa de televisão, o sargento Laci Marinho de Araújo
passou ontem por exames médicos que, segundo o Exército,
o consideraram apto a exercer a
atividade militar -e não doente, como ele diz estar.
Com isso, ele seguirá preso e
continuará a responder processo por deserção. O Superior
Tribunal Militar disse que o
laudo só irá chegar hoje.
Também de acordo com o
Exército, o companheiro de
Araújo, o sargento Fernando
Alcântara de Figueiredo, deverá responder administrativamente por sua ausência ao trabalho durante o período que
passou em São Paulo com Laci
-três dias, segundo o sargento.
Alcântara disse ontem ter se
apresentado no Hospital Geral
de Brasília, onde trabalha. À
noite, seguiu para a 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais, em Brasília.
A deserção é caracterizada
pela ausência por mais de oito
dias. A pena é de seis meses a
dois anos de detenção, podendo chegar a expulsão. Araújo
havia justificado a ausência dizendo estar doente.
Araújo e Alcântara contestam os exames médicos feitos
pelo Exército. Um atestado feito anteontem pelo psiquiatra
Paulo Sampaio, representante
do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, apontou um
quadro de confusão mental,
agitação e agressividade.
Ontem, Araújo foi transferido a Brasília junto com seu
companheiro. Lá, foi levado ao
IML. Chegou algemado e gritando. "Sabe por que eu estou
preso? Porque eu denunciei um
esquema de corrupção! Eles
vão me matar!"
O exame no IML demorou
três minutos, da hora em que o
médico fechou a porta até abri-la novamente. Segundo a assessoria de comunicação do Exército, o objetivo era verificar se
houve maus-tratos no trajeto, o
que não foi constatado.
Depois disso, o sargento foi
encaminhado ao Hospital Geral de Brasília. Ele ficaria preso
lá, segundo o Exército, porque
estava "exaltado".
Sem discriminação
Um oficial do Exército responsável por prender Araújo
afirmou que a detenção não foi
baseada em discriminação, já
que há vários homossexuais
nas Forças Armadas.
Segundo esse oficial, que integra o Comando Militar do Sudeste e só aceitou falar sob a
condição de anonimato, Araújo
foi preso por deserção.
No Estado de São Paulo há
uma média de quatro deserções
ao ano, de acordo com o oficial.
Ele não soube informar quantos desertores são presos.
Atualmente, São Paulo tem um
efetivo de 22 mil militares.
Colaborou KLEBER TOMAZ, da Reportagem Local
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