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No Piauí, moradores temem rompimento de outra barragem
Com capacidade maior do que a de Cocal, onde 7 pessoas morreram, a barragem está sem manutenção, diz associação de piscicultores local
Reservatório fica em Piracuruca, a 80 km de Cocal; governo do Piauí nega risco de rompimento, mas admite existência de uma fissura
FERNANDO DONASCI
ENVIADO ESPECIAL A PIRACURUCA (PI)
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
Moradores de Piracuruca, no
Piauí, temem que uma barragem com 250 milhões de metros cúbicos de água se rompa e
cause uma tragédia similar à de
Cocal, onde sete pessoas morreram após o rompimento de parte do complexo de Algodões 1.
Há duas crianças desaparecidas
-a ruptura foi em 27 de maio.
Distante 80 km de Cocal, a
barragem de Piracuruca tem
cinco vezes a capacidade de armazenamento de Algodões 1
(que rompeu com 50 milhões
de metros cúbicos de água).
Moradores dizem que o complexo está sem manutenção há
cerca de oito anos.
"Durmo preocupado quando
chove forte, com medo de que a
barragem se rompa. Tenho a
certeza de que, se isso ocorrer, o
estrago será muito maior que o
de Cocal", diz John Kennedy de
Morais Machado, 45.
Presidente da associação dos
piscicultores, ele diz que já chamou a atenção dos responsáveis
pela barragem, que foram até o
local, "mas não fizeram nada".
A presidente da Emgerpi
-estatal responsável pela barragem-, Lucile Moura, nega
risco de rompimento e que a
obra esteja sem manutenção.
No próximo mês, disse, haverá
"intervenção" na barragem.
A última vistoria técnica, diz
Moura, foi no fim de 2008. Para
ela, os dois problemas da barragem são: 1) uma fissura no sangradouro e 2) parte de uma das
duas comportas emperrada em
razão do acúmulo de vegetação
no fundo do reservatório.
A Folha esteve na região da
barragem na segunda e constatou infiltrações no muro de
contenção. Dele, pedras se descolam, dando a sensação de que
está prestes a desmoronar. A
água que corre pela lateral do
muro forma uma cachoeira.
Além disso, há erosão de parte do solo próximo ao muro,
homens pescando à noite e utilizando, sem autorização, a
guarita e moradores usando o
local para namorar e beber.
Sobre os problemas no muro
de contenção, Moura afirma
que algumas pedras, de fato,
caíram, passando a impressão
de que está desmoronando.
"Mas não existe nos relatórios da engenharia nada que diga que há problema nesse aspecto na barragem."
Antes mesmo do rompimento de Algodões 1, a preocupação
dos moradores com a barragem já tinha sido debatida na
Câmara local. Cerca de dez dias
antes da tragédia em Cocal, a
Casa pediu à Emgerpi uma vistoria técnica no complexo.
Nesta semana, o governador
Wellington Dias (PT) autorizou a criação de uma comissão
para analisar a situação das
barragens do Piauí. A primeira
será a de Piracuruca.
Um mapeamento do especialista em barragens Rogério Menescal, que trabalha na Ana
(Agência Nacional de Águas),
aponta que cerca de 200, de
7.000 barragens do país, correm risco de se romper.
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