São Paulo, sábado, 06 de junho de 2009

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No Piauí, moradores temem rompimento de outra barragem

Com capacidade maior do que a de Cocal, onde 7 pessoas morreram, a barragem está sem manutenção, diz associação de piscicultores local

Reservatório fica em Piracuruca, a 80 km de Cocal; governo do Piauí nega risco de rompimento, mas admite existência de uma fissura

FERNANDO DONASCI
ENVIADO ESPECIAL A PIRACURUCA (PI)
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Moradores de Piracuruca, no Piauí, temem que uma barragem com 250 milhões de metros cúbicos de água se rompa e cause uma tragédia similar à de Cocal, onde sete pessoas morreram após o rompimento de parte do complexo de Algodões 1. Há duas crianças desaparecidas -a ruptura foi em 27 de maio.
Distante 80 km de Cocal, a barragem de Piracuruca tem cinco vezes a capacidade de armazenamento de Algodões 1 (que rompeu com 50 milhões de metros cúbicos de água). Moradores dizem que o complexo está sem manutenção há cerca de oito anos.
"Durmo preocupado quando chove forte, com medo de que a barragem se rompa. Tenho a certeza de que, se isso ocorrer, o estrago será muito maior que o de Cocal", diz John Kennedy de Morais Machado, 45.
Presidente da associação dos piscicultores, ele diz que já chamou a atenção dos responsáveis pela barragem, que foram até o local, "mas não fizeram nada".
A presidente da Emgerpi -estatal responsável pela barragem-, Lucile Moura, nega risco de rompimento e que a obra esteja sem manutenção. No próximo mês, disse, haverá "intervenção" na barragem.
A última vistoria técnica, diz Moura, foi no fim de 2008. Para ela, os dois problemas da barragem são: 1) uma fissura no sangradouro e 2) parte de uma das duas comportas emperrada em razão do acúmulo de vegetação no fundo do reservatório.
A Folha esteve na região da barragem na segunda e constatou infiltrações no muro de contenção. Dele, pedras se descolam, dando a sensação de que está prestes a desmoronar. A água que corre pela lateral do muro forma uma cachoeira.
Além disso, há erosão de parte do solo próximo ao muro, homens pescando à noite e utilizando, sem autorização, a guarita e moradores usando o local para namorar e beber.
Sobre os problemas no muro de contenção, Moura afirma que algumas pedras, de fato, caíram, passando a impressão de que está desmoronando.
"Mas não existe nos relatórios da engenharia nada que diga que há problema nesse aspecto na barragem."
Antes mesmo do rompimento de Algodões 1, a preocupação dos moradores com a barragem já tinha sido debatida na Câmara local. Cerca de dez dias antes da tragédia em Cocal, a Casa pediu à Emgerpi uma vistoria técnica no complexo.
Nesta semana, o governador Wellington Dias (PT) autorizou a criação de uma comissão para analisar a situação das barragens do Piauí. A primeira será a de Piracuruca.
Um mapeamento do especialista em barragens Rogério Menescal, que trabalha na Ana (Agência Nacional de Águas), aponta que cerca de 200, de 7.000 barragens do país, correm risco de se romper.


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