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Mensagem indica quebra do leme do Airbus
Registro do dano consta de um dos 24 alertas emitidos automaticamente pelo avião e divulgados pela TV France 2
Equipamento impede manobras bruscas que possam causar dano estrutural ou tirar a aeronave de controle
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma mensagem automática
enviada pelo Airbus-330 da Air
France que caiu no mar domingo mostra que o leme do avião,
peça aerodinâmica essencial
para o voo, quebrou. A mensagem ocorreu no primeiro dos
quatro minutos finais do AF
447, em que foram emitidos 24
alertas, indicando que um problema estrutural pode ter desencadeado o acidente com o
avião que levava 228 pessoas.
A mensagem está nos alertas
do voo que a TV France 2 divulgou anteontem, sem contestação da Air France ou das autoridades francesas -a quebra não
foi identificada pela rede.
A Folha ouviu dois pilotos de
Airbus e ambos foram assertivos sobre o potencial catastrófico do evento, suspeitando que
ele foi provocado por alguma
rajada violentíssima de vento.
Às 23h10, a primeira mensagem informa que há um CTL
RUD TRV LIM FAULT. Traduzindo tecnicamente: falha no
controle de limitação do curso
do leme. Em português: o computador indica que o leme excedeu o limite que poderia mexer, ou seja, quebrou.
O leme é a parte móvel do estabilizador, a "asa" vertical que
fica na cauda do avião e é responsável por evitar guinadas
aerodinâmicas. O leme permite
alterações no curso do avião.
Seus movimentos são limitados a 25% de inclinação no próprio eixo até 296 km/h nos Airbus. A partir dos 703 km/h, essa tolerância cai a menos de 4%
devido ao potencial de dano estrutural ou de fazer uma manobra que tire o avião de controle.
Quando saiu do controle de radar brasileiro, 22 minutos antes do registro do defeito, o AF
447 estava a 840 km/h.
É esse limitador que o computador aponta que falhou.
Pior: como não é registrado defeito nos sistemas que controlam os motores elétricos que
mexem o leme, os FAC, há a
possibilidade de o estabilizador
ter sido arrancado.
Nesse caso, o controle de um
avião a 10,7 km de altura e a
840 km/h é quase impossível.
"Certamente houve algum
dano estrutural à aeronave. Se
ele foi pequeno ou grande, ainda não é possível afirmar. Mas
é uma informação extremamente importante", diz o engenheiro aeronáutico Adalberto
Febeliano, ex-vice-presidente
executivo da Associação Brasileira de Aviação Geral e atualmente diretor da Azul.
Se o leme ou até o estabilizador quebraram, fica a dúvida:
teria a tempestade sido tão violenta ou havia algum problema
prévio em sua estrutura, que é
das mais frágeis no avião?
Há sempre a hipótese de o
computador ter falhado e informado incorretamente o defeito. O computador do A330 já
havia causado quase-tragédias
ano passado na Austrália por
leitura incorreta de dados.
As mensagens seguintes já
haviam sido exploradas. No
momento em que o defeito no
leme é apontado, o piloto automático e o acelerador automático do avião são desligados.
O sistema fly-by-wire, que
evita que o piloto faça manobras muito perigosas, retira
três das suas cinco salvaguardas. Em outras palavras, o
avião vai para a mão do piloto.
Como disse um dos pilotos
de Airbus ouvidos, a partir daí é
"desespero" em um espaço
muito curto de tempo, o que
explicaria a falta de pedido de
socorro.
O BEA (birô de investigação
e análise), agência francesa que
apura acidentes aéreos, dará
entrevista hoje sobre o caso.
Até aqui, só admitiu que havia
tempo ruim na rota do AF 447
e que houve sinais divergentes
nas medições de velocidade.
Isso está explicitado na mensagem das 23h12 que indicou
incoerência no ADR, um dos
três computadores que recolhem dados de velocidade, altitude e velocidade vertical (se o
avião sobe, desce ou está alinhado). Isso levou à especulação corrente de que um sensor
externo do Airbus da Air France teria congelado.
Já houve acidente com Airbus devido a problemas no leme. Em 2001, depois de perder
o equipamento, aparentemente em razão de movimentos
bruscos causados por turbulências, um A300 da American
Airlines caiu sobre o bairro do
Queens, em Nova York, matando 255 pessoas.
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