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Air France vai trocar sensores nos Airbus
Mudança sinaliza a suspeita de que uma falha nesses equipamentos tenha contribuído para o acidente de domingo
Empresa avisou seus pilotos sobre alteração, segundo a Associated Press; já a Airbus reforçou as orientações em caso de dados divergentes
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Air France enviou ontem
aos seus pilotos um comunicado de que irá trocar os sensores
externos da frota de Airbus. O
aviso veio um dia após o órgão
francês que investiga a queda
do modelo A330 da empresa
sobre o Atlântico ter apontado
"incoerências" entre as velocidades medidas pelo avião.
A informação foi divulgada
pela agência Associated Press e,
somada a uma nota divulgada
pela Airbus também ontem,
constitui uma das suspeitas
técnicas para o acidente: uma
falha nos sensores pode ter tido
papel importante na série de
eventos que resultou na queda.
Às 23h12, pouco antes de o
avião emitir o último sinal, o
computador de bordo indicou
uma divergência entre os sistemas que informam a velocidade. A pane aconteceu dois minutos depois das primeiras falhas graves registradas, entre
elas a quebra do leme.
A Air France não quis confirmar a troca do sensor, conhecido como pitot. No Brasil, a
TAM, que opera 117 Airbus, informou ter atualizado os sistemas de suas aeronaves A330,
conforme recomendou o fabricante em 2007. Já a Airbus apenas divulgou nota relembrando
que todo piloto de seus aviões
tem de fazer as checagens de
sistema caso haja discrepância
na velocidade indicada pelos
instrumentos.
Anteontem, o BEA (birô de
investigações) francês dissera
em nota que houve "incoerências nas velocidades medidas",
a partir da análise das mensagens automáticas enviadas pelo
computador do avião.
O pitot é um tubo de 12 cm
que fica na lateral do avião. Há
quatro deles, dois para cada piloto. Eles enviam dados que,
combinados com um sensor
chamado porta estática, alimentam três computadores de
navegação chamados ADR com
informações sobre velocidade,
altitude e velocidade vertical
(que indica se o avião está em linha, descendo ou subindo).
Um sistema principal, chamado Adiru, interpreta esses
dados e os recolhidos pelo IR,
sistema de navegação que não
depende de sensores externos.
Cruzando os dados, ele informa
a tela principal de comando e o
computador central.
Ocorre que o pitot pode congelar ou entupir com gelo. O AF
447 saiu do espaço controlado
por radar pelo Brasil 22 minutos antes de os problemas aparecerem nas mensagens automáticas a 35 mil pés (10,7 km),
onde as temperaturas caem
abaixo de -50C. Para não congelar, eles têm um sistema de
aquecimento. Se o aquecimento falhou ou um pitot entupiu,
dois cenários se descortinam.
No primeiro, os pilotos receberam em sua tela informação
de que o avião estava acelerando ou desacelerando. Desligaram o piloto automático e tentaram aumentar ou reduzir demais a velocidade. Nos dois casos, o resultado é potencialmente catastrófico. Se reduzir
demais, o avião perde sustentação e cai. Se acelerar demais,
pode se despedaçar no ar.
No segundo cenário, o sistema Adiru percebe o conflito de
dados entre o ADR e o IR e tenta resolver sozinho, ordenando
alguma manobra de correção
baseada em dados errados.
No ano passado, dois Airbus-330 australianos tiveram esse
problema e, num dos casos, a
aeronave ficou desgovernada
por três vezes. Nos episódios,
contudo, o problema apontado
era que o ADR-1 "enlouquecia"
e passava dados errados quando havia indicação de falha no
IR. Em ambos os casos, o piloto
automático foi desligado, assim
como indicou a primeira mensagem automática do AF 447.
Na nota de ontem, a Airbus
reforça a prática em caso de dúvida sobre a velocidade: manter
estável a força dos motores e fazer todas as checagens do avião.
(ALAN GRIPP E IGOR GIELOW).
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