ROGER MODKOVSKI

da Agência Folha, em Curitiba

O número de mortes de crianças de até um ano no Brasil registrou queda de 15% no primeiro trimestre de 1998 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo levantamento realizado pela Comissão Pastoral da Criança. Os dados referem-se somente às crianças de 2.892 municípios acompanhadas pelas ações sociais e de saúde da pastoral, entidade ligada à CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. O índice de mortalidade infantil caiu em todos os Estados, exceto no Ceará. A mortalidade entre crianças até um ano acompanhadas caiu 15% no país -de 16,7 mortes por grupo de mil para 14,2 por grupo de mil no primeiro trimestre deste ano. No Nordeste, a diminuição foi de 22,4 mortes por mil para 19,3 -13,9%. O dado oficial mais recente, do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) de 1996, registra 44 mortes por mil. A diferença entre os dados se explica porque a pastoral registra apenas a morte de crianças acompanhadas por suas ações sociais e de saúde, e somente nos bolsões de miséria do país -onde, segundo a pastoral, a mortalidade pode chegar ao dobro da média nacional. Logo, não podem ser tomados como um retrato exato do país. Mesmo assim, segundo o médico epidemiologista Nelson Arns Neumann, da pastoral, os dados são úteis porque "mostram uma tendência". No Ceará, a mortalidade cresceu de 16 para 28 por mil, um aumento de 75% em crianças nascidas nas comunidades, e de 23 para 37 por mil (aumento de cerca de 60%) entre as acompanhadas. Ou seja, considerando também as crianças que chegam à comunidade graças a migrações e atraídas pela atuação da pastoral. O fato de ter havido crescimento em ambos o índices é preocupante, de acordo com Neumann. Segundo Neumann, ainda não se sabe ao certo por quais motivos houve aumento da mortalidade apenas no Ceará. Em uma avaliação preliminar, ele diz que grande parte das mortes ocorrem por diarréia, causada pela contaminação da água. "É necessário ter água boa e em quantidade adequada", diz. A avaliação das causas do aumento do índice deve demorar, segundo Neumann, porque é mais fácil para os mais de 100 mil líderes comunitários da pastoral nos 27 Estados do país registrar uma morte que tentar descobrir o que a causou. "O que sabemos é que é o momento de agir", diz. A Pastoral da Criança, sediada em Curitiba, existe desde 1983 e é um organismo de ação social da CNBB.


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