São Paulo, sexta-feira, 06 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARBARA GANCIA

Consulado dos EUA é tão bonzinho

>É de se esperar que o Departamento de Estado cobre explicações de seu cônsul-geral em São Paulo

PARA OS NORTE-AMERICANOS , o 4 de julho é a data nacional mais importante, o equivalente ao nosso 7 de setembro. O chamado "Independence Day" celebra a ratificação da declaração da independência, ocorrida em 4 de julho de 1776, quando as treze colônias originais do país declararam sua independência do Reino Unido.
Qualquer um que já tenha assistido a um filme produzido em Hollywood sabe que os norte-americanos usam essa data do calendário para saudar a bandeira, assistir a queimas de fogos e se entupir de hambúrgueres e cachorros-quentes.
Pois, neste ano, no consulado dos EUA em São Paulo, localizado no bairro de Santo Amaro, a data foi comemorada com um coquetel oferecido pelo cônsul-geral, na segunda-feira, das 19h às 21h, com direito à execução dos hinos norte-americano e brasileiro e a presença de várias personalidades. Foi uma festa linda. Estavam lá para prestigiar a declaração da independência, entre outros, o ex-governador Orestes Quércia, o rabino Henry Sobel e o deputado federal Paulo Maluf.
Ora, ora, Paulo Maluf? Alô, Departamento de Estado! Alô, Condoleezza Rice! Alô, Departamento de Justiça! Alô, "attorney general", Alberto Gonzales! O deputado Maluf não estaria sob investigação a mando do escritório do promotor distrital de Nova York, o respeitado Robert Morgenthau, em processo por lavagem de dinheiro?
O próprio Morgenthau não teria emitido um pedido para que o senhor Maluf fosse detido caso pisasse em solo norte-americano? Esse pedido não foi repassado à Interpol e o ex-prefeito paulistano não estaria enfrentando dificuldades para entrar em todos os países em que a Interpol atua?
Pelas nossas leis, congressistas só podem ser julgados pelo Superior Tribunal Federal. Na prática, são protegidos contra todo tipo de imputação. Mas será que a eleição de Maluf a deputado federal no Brasil tem o efeito milagroso de reverter as acusações que existem contra ele no exterior? I don"t think so.
Dona Condoleezza e o juiz Gonzales talvez não saibam, mas nem todo cidadão brasileiro é recebido com pompa e circunstância no consulado. Muito menos em dia de comemoração de data nacional importante, como foi o caso do deputado Maluf na segunda-feira passada.
Para o comum mortal que quer ir estudar ou gastar seu suado dinheiro em férias nos Estados Unidos, freqüentar o consulado significa padecer em filas e mais filas e nas mãos dos funcionários a fim de tirar visto para entrar no país.
Mas, veja: mesmo que Maluf tenha sido o parlamentar mais votado do Estado, tecnicamente, o consulado é território norte-americano e, nos Estados Unidos, o ex-prefeito continua sendo pessoa indesejável.
Ao receber Paulo Maluf em solo pátrio, o cônsul-geral dos Estados Unidos acabou dando legitimidade às assertivas do senhor Maluf, que sempre negou possuir conta bancária no exterior.
Agora que o leite foi derramado, a única coisa que se espera é que tanto o escritório do promotor Robert Morgenthau quanto o Departamento de Estado cobrem explicações de Christopher McMullen, o cônsul-geral anfitrião de Maluf.

barbara@uol.com.br


Texto Anterior: Passageiro será avisado sobre vôo pela companhia
Próximo Texto: Qualidade das praias: Ilhabela está com todas as praias próprias para banho
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.