|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Laudos trazem indícios de tortura, diz OAB
Perícia realizada pelo IML aponta que ao menos dez dos 19 mortos em operação policial no Rio tinham ferimentos e escoriações
Vítimas receberam 78 tiros no total, 32 deles disparados por trás, o que representa 41,02%; adolescente de 15 anos levou nove disparos
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Ferimentos ensangüentados, escoriações e manchas arroxeadas estavam espalhadas
pelos corpos de pelo menos dez
das 19 vítimas de supostos confrontos entre policiais e traficantes ocorridos no complexo
de favelas do Alemão, na zona
norte carioca, no dia 27.
A informação consta dos laudos cadavéricos produzidos pelo IML (Instituto Médico Legal) e que a Secretaria Estadual
de Segurança Pública tem procurado manter em segredo.
Para a Comissão de Direitos
Humanos da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil), as marcas são mais um indício de que,
durante a operação, os policiais
podem ter espancado e torturado suspeitos, como acusam parentes e moradores do local.
O presidente da comissão,
João Tancredo, após analisar
os laudos, disse que "já se vislumbra" a hipótese de algumas
das vítimas terem sido mortas
depois de rendidas. "Estou
comparando os laudos com o
que dizem os moradores. O
prudente é verificarmos o que
aconteceu com uma perícia independente, mas já se vislumbra a hipótese de execução."
Segundo os laudos, 13 das 19
vítimas receberam tiros por
trás. Sete foram baleadas nas
costas; duas, no pescoço; uma,
na cabeça; uma, na panturrilha
esquerda; uma, no braço esquerdo; e uma, no punho esquerdo. A perícia não indica a
distância percorrida pelas balas
antes de atingir o corpo nem os
calibres das armas usadas pelos
policiais. Mas, em cinco casos,
apontam a presença de pólvora
nas bordas dos ferimentos de
entrada da bala, o que indicaria
proximidade entre quem atirou e quem foi baleado.
Dos casos de ferimentos externos não causados por armas
de fogo e relacionados nos laudos corporais, o que mais chama a atenção é o de David Souza de Lima, 14. No antebraço
esquerdo dele, segundo a perícia, constatou-se a existência
de "uma extensa ferida irregular". A profundidade do ferimento deixa à mostra os ossos e
a musculatura.
Lima foi baleado nas costas
quatro vezes. Desde o dia da
operação, moradores e parentes dizem que o menino foi esfaqueado antes de morrer. O ferimento no braço dele pode ter
sido causado por facadas ou outro objeto perfurocortante.
A perícia mostra ainda que as
19 vítimas foram mortas com
um total de 78 tiros, sendo 32
deles disparados por trás, o que
representa 41,02%. O adolescente Pablo Alves da Silva, 15,
recebeu nove disparos, sendo
quatro nas costas, dois na cabeça, um no pescoço, um no tórax
e no braço direito.
As vítimas em que havia ferimentos externos, além de Lima, são Bruno Rodrigues Alves,
Cléber Mendes, Geraldo Batista Ribeiro, Marcelo Luiz Madeira, Bruno Vianna Alcântara,
Uanderson Ferreira, Emerson
Goulart, Jairo César Caetano e
Rafael Bernardino da Silva.
Texto Anterior: Cultura: Decreto determina que prédio do Detran abrigue museu Próximo Texto: Cabral afirma que os mortos eram "marginais" Índice
|