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ABUSO POLICIAL
Pedido foi encaminhado pela Polícia Civil, após o governo reconhecer que o comerciante Chan Kim Chang foi espancado no presídio
Justiça do Rio decreta a prisão de 6 agentes
FERNANDA DA ESCÓSSIA
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
A Justiça do Rio decretou ontem
à noite a prisão por 30 dias, prorrogáveis por mais 30, de seis agentes penitenciários suspeitos do espancamento do comerciante chinês naturalizado brasileiro Chan
Kim Chang, que morreu na noite
de quinta depois de ficar oito dias
em coma. O pedido de prisão foi
encaminhado pela Polícia Civil.
Só ontem, após a morte de Chan
e de um laudo mostrando que ele
sofreu traumatismo crânio-encefálico por ação contundente, o governo do Estado reconheceu que
ele morreu após ser espancado no
presídio Ary Franco. O pedido de
prisão foi anunciado pelo delegado Marcelo Fernandes, que assumiu o caso ontem.
Chan foi preso no dia 25 de
agosto por policiais federais
quando tentava embarcar no Aeroporto Internacional Tom Jobim
sem declarar US$ 30 mil à Receita
Federal. Levado para o presídio
Ary Franco (zona norte), centro
de triagem de detentos, foi encontrado dois dias depois, desacordado e com lesões no corpo.
O governo estadual, que antes
da morte de Chan falava tanto em
espancamento como em autolesão, eliminou a segunda hipótese.
"A minha determinação é que se
puna, porque nós não vamos
compactuar com tortura no nosso governo", afirmou a governadora Rosinha Matheus (PMDB).
O chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, disse que o espancamento causou a morte de Chan.
Segundo ele, a mudança de rumo
na investigação se deveu ao resultado do laudo da necropsia, apontando como causa da morte traumatismo crânio-encefálico com
hemorragia cerebral, provocada
por ação contundente -segundo
ele, incompatível com autolesão.
"Dificilmente uma pessoa se autolesionará a ponto de causar
traumatismo craniano, o que nos
leva a concluir que houve ação externa", afirmou Lins.
Para o legista Nelson Massini,
professor da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), o conjunto das lesões de Chan aponta
para espancamento. "Ele tinha lesões no corpo todo, o que mostra
que foi agredido por várias pessoas, e também lesões de defesa."
Homicídio qualificado
A partir de agora, o inquérito
sobre o caso irá apurar se houve
homicídio qualificado. A investigação inicial apurava apenas danos ao patrimônio público, por
causa da semidestruição de uma
sala do presídio, e depois lesão
corporal seguida de morte.
Segundo o delegado Marcelo
Fernandes, a opção pelo homicídio doloso se deve ao fato de que,
como crime hediondo, ele permite a prisão provisória. Mas, disse,
no decorrer das investigações poderá ser caracterizado também o
crime de tortura.
Ontem, foi realizada uma perícia complementar nas salas do
presídio por onde Chan passou,
com um reagente que é capaz de
mostrar manchas de sangue mesmo que tenham sido lavadas. O
Disque-Denúncia recebeu cinco
denúncias anônimas indicando
que Chan foi espancado para que
revelasse a senha do seu cartão.
Além do laudo da necropsia,
outro exame feito quando Chan
ainda vivia, a pedido do Ministério Público Federal, já indicava o
espancamento. A divulgação desse laudo pelo secretário de Direitos Humanos, João Luiz Pinaud,
horas antes da morte de Chan, havia sido criticada pelo secretário
de Administração Penitenciária,
Astério Pereira dos Santos.
Ontem, com a notícia da morte,
a governadora se reuniu com Pinaud, Santos e o chefe de Polícia
Civil. À noite, Santos afastou sete
dos 12 agentes de plantão no dia
em que Chan chegou ao Ary
Franco. Santos ainda determinou
a transferência de dois presos que
teriam testemunhado o crime.
Os agentes que tiveram a prisão
decretada são Ricardo Wagner
Sarmento Alves, Ricardo Duarte
Pires Valério, Carlos Alberto de
Souza Rodrigues, Denis Gonçalves Monsores, Everson Azevedo
da Motta e Raul Broglio Júnior.
Três deles -Monssores, Rodrigues e Motta- prestaram depoimento ontem na PF, que também
investiga o caso. Eles reafirmaram
o que todos os agentes haviam dito na Polícia Civil, de que Chan teve uma crise nervosa na sala de
identificação e se autolesionou.
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