São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2005

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CRÔNICA DO DESESPERO

Família do pai de Jhéck é contra a eutanásia

MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

A intenção do recepcionista Jeson de Oliveira, 35, de buscar autorização judicial para realizar a eutanásia no filho Jhéck Breener de Oliveira, 4, não encontrou respaldo em sua família. Um dos irmãos quer, inclusive, que ele seja internado para fazer tratamento, pois estaria "desesperado".
De acordo com Erlan Soares de Oliveira, 34, irmão de Jeson, a família não está ao lado do pai de Jhéck porque tem formação católica e acredita que a eutanásia não é a melhor medida para a criança. "Acredito que ele está agindo movido pelo desespero. Somos contra a decisão dele e ficamos até meio constrangidos com isso, porque ninguém está apoiando o Jeson", afirmou Erlan.
De acordo com ele, o irmão está desesperado por não ter condições de ver o filho na situação em que está. Vítima de uma doença degenerativa do sistema nervoso central, Jhéck apresenta um quadro de saúde irreversível.
Internado há quatro meses de forma ininterrupta no CTI (Centro de Terapia Intensiva) Infantil do hospital Unimed de Franca, ele já perdeu os movimentos dos braços, das pernas e do pescoço, não fala, não enxerga, utiliza uma sonda para ser alimentado e respira com o auxílio de aparelhos.
"O Jeson está muito abalado e precisa de ajuda. Estamos tentando convencê-lo a procurar uma internação, porque está desorientado. Queria que ele desistisse e cuidasse da sua cabeça. Também quero o melhor para o meu irmão, que foi se afastando da família conforme a criança ficava doente", disse Erlan, que dos nove irmãos é o que tem maior ligação com o pai de Jhéck.
Jeson, por sua vez, disse que não tem ligação com a família e sabia que lutaria "contra o mundo". "Minha família não passa o que eu passo", afirmou.
Ontem, o pai de Jhéck disse à reportagem da Folha que já possui os documentos necessários para entrar na Justiça e pedir autorização para realizar a eutanásia no filho. São dois laudos, de hospitais de Ribeirão e São Paulo, segundo seu advogado, Marcos Antonio Diniz, que ontem à noite discutiria a estratégia com seu cliente.
Como a família de Jeson mora em Ribeirão Preto, o pedido pode ser protocolado na cidade -a intenção é evitar que a comoção causada pelo caso em Franca possa envolver o Judiciário.
Para fugir do assédio da imprensa e dos pedidos para que desista da ação judicial que enfrentava diariamente nas ruas de Franca, o pai de Jhéck disse que passou o final de semana em um sítio com amigos em Minas Gerais.

Doações
A família de Rosemara dos Santos Souza, 22, mãe de Jhéck, recebeu anteontem, em um programa de TV, uma ajuda de R$ 20 mil.
Segundo Rosemara, o dinheiro servirá para a compra de equipamentos necessários para levar Jhéck para casa -o custo é de R$ 40 mil a R$ 60 mil.
O pai do menino, disse ser contra as doações. "Não concordo. Queria que alguém fiscalizasse o uso do dinheiro", afirmou.


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