São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007

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Polícia Militar usa pit bulls no combate a rebeliões

Agressivos, cães também são utilizados em perseguições e partidas de futebol

"Se o pit bull atacar, o efeito será desastroso: vai machucar, pois se comporta como em uma caçada", diz o coronel Mascarenhas

KLEBER TOMAZ
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Militar de São Paulo usa uma arma polêmica: tem em média 25 kg, atinge cerca de 40 km/h, alcança mais de dois metros de altura e amedronta de longe. Policiais militares estão usando pit bulls para perseguir fugitivos em matas fechadas, conter rebeliões e dispersar brigas em jogos de futebol.
A polêmica fica por conta da agressividade da raça, segundo especialistas. "Ele tem uma índole mais agressiva, um comportamento, muitas vezes, imprevisível", afirma Elisabete Aparecida da Silva, veterinária do CCZ (Centro de Controle de Zoonoses). "Não sei dizer se daria certo na polícia."
Apenas na última semana, seis pessoas foram vítimas de pit bulls no Estado de São Paulo. Uma delas, um aposentado de 76 anos, morreu na capital.
Atualmente, há três cães da raça na corporação. Dois já foram "efetivados" pela PM. Um deles é Shiva, 4, de Franco da Rocha (43 km de São Paulo), que atua em rebeliões e busca foragidos e perdidos na mata.
Já o pit bull Mister Bean, 7, do Vale do Paraíba (interior do Estado), deve se aposentar em 2008. O coronel Sérgio Alves, comandante na região, diz que nunca ocorreu um acidente. "Ele é muito útil em rebelião porque os presos o respeitam."
O terceiro passa por testes de adestramento, obediência e policiamento: Maximus, 1, treina há quatro meses em Santos (85 km da capital) e precisa de mais dois para ser aprovado ou não.
Segundo policiais como o major Armando Bezerra Leite, de Santos, embora seja pequeno, a vantagem no uso de pit bulls está no porte robusto e ágil. Mas há quem discorde, como o próprio coronel Alves, do Vale do Paraíba. "O pastor alemão é melhor. Não defendo a incorporação do pit bull como padrão na polícia."
Já os defensores dos pit bulls torcem para que eles sigam o mesmo caminho do pastor alemão e do rottweiler na polícia. "Estamos quebrando um paradigma", diz o coronel Wanderley Mascarenhas, comandante do 26º Batalhão da PM de Franco da Rocha. "De dez pit bulls, aproveitamos um ou dois. Eles costumam ser mais resistentes e suportam longas distâncias, mas é muito cedo para dizer que serão incorporados."
O caráter do cão, afirma o soldado Marcelo Mattos, tratador de Shiva, é moldado no ambiente. "Ele foi desenvolvido para atacar búfalos e cães, mas, se for submisso, obedecerá."

Ataque sem fim
O zootecnista Alexandre Rossi, especializado em comportamento canino, acha possível o uso da raça na polícia desde que bem treinada, mas diz que o pit bull tem dificuldade de parar um ataque.
"Se o pit bull atacar, o efeito será desastroso: vai machucar, pois ele se comporta como em uma caçada", confirma o coronel Mascarenhas.
Para Rossi, essa é grande desvantagem do pit bull em relação ao pastor alemão, ao labrador e ao rottweiler, raças usadas pela polícia. "O labrador é bom farejador, o pastor está sempre disposto a fazer atividades, e o rottweiler é inteligente. Mas todos podem ser agressivos. O problema do pit bull é que ele ataca até o fim."
Cada vez que um ataque de pit bull ocorre, o CCZ da capital vê explodir o número desses cães abandonados nas ruas. Em 2006, 352 pit bulls chegaram ao centro. Neste ano, eram 669 até domingo. "A maioria dos cães vai para a adoção", diz Elisabete, do CCZ. "Mas um pit bull não, por causa de sua índole." Mais dia, menos dia, eles serão sacrificados.
Procurado pela Folha para comentar o uso dos pit bulls pela PM, o secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, não telefonou de volta.


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