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Após confronto, Heliópolis pede tratamento melhor
Líderes da favela negam vínculo de protesto com o tráfico e reivindicam que o local seja tratado como parte da cidade
Para líder, manifestação pela morte de garota na semana passada, durante perseguição iniciada em São Caetano, foi motivada por "indignação"
Joel Silva/Folha Imagem
![](../images/c0609200901.jpg) |
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Crianças brincam de bola na área mais pobre da favela de Heliópolis,
na zona sul de São Paulo
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A jovem Ana Cristina Macedo, 17, nasceu em Crateús, no
Ceará -como ela, 91% dos habitantes de Heliópolis nasceram no Nordeste ou são filhos
de nordestinos. Era mãe de um
bebê de apenas um ano e oito
meses -crianças e jovens são
60% da população local.
A garota morreu ao retornar
do primeiro dia de aula em uma
escola estadual do bairro. Era
evangélica, como muitos de
Heliópolis. E frequentava a Imperador do Ipiranga, a escola de
samba de Heliópolis.
Tantos pontos de contato
com a maioria da população da
maior favela de São Paulo (as
estatísticas oscilam entre 85
mil e 125 mil, segundo a fonte),
fizeram com que alguns dos líderes do lugar tenham-se sentido ofendidos quando se disse
que o protesto pela morte de
Ana Cristina havia sido organizado pelos traficantes do lugar.
"Não foi. Houve pessoas que
pegaram carona na revolta legítima pela perda da nossa jovem? Houve. Mas foi a indignação que motivou o protesto",
afirma Antonia Cleide Alves,
nordestina, presidente da
União de Núcleos, Associações
e Sociedades de Moradores de
Heliópolis e São João Clímaco.
Segundo ela, Heliópolis "exige" ser tratada como parte da
cidade. "O que aconteceu aqui é
que fomos invadidos pela violência que levou a vida da jovem Ana Cristina. Perseguidores e perseguidos não eram daqui." A presidente se refere ao
fato de os perseguidos na noite
da última segunda-feira serem
acusados de roubar um veículo
na vizinha São Caetano do Sul e
de os perseguidores serem
guardas-civis de São Caetano.
"Se o mesmo tivesse acontecido em qualquer bairro da cidade, seria um escândalo, mas,
como é aqui, temos de repetir
todo o tempo que nós é que fomos as vítimas", diz Antonia.
A megafavela encravada na
fronteira entre São Paulo e São
Caetano do Sul tem a mesma
população que Atibaia (IBGE-2007). Mas, enquanto a cidade
paulista espalha-se por 478
km2, a favela espreme-se em
área menor do que 1 km2.
"Há uma divisão em Heliópolis que quem está fora nem
imagina. Lá [refere-se ao núcleo mais organizado da favela], tem orquestra sinfônica,
tem quadras de esportes, tem
programas de profissionalização, tem lavanderia comunitária, tem artista de TV e o presidente Lula visitando. Aqui, não
tem nada. Não tem creche. Não
tem esgoto. Não tem espaço
para as crianças brincarem." A
frase é de Olivia Silva Soares,
48, diretora da Associação Unidos de Vila Carioca, o núcleo
miserável da favela.
As estatísticas oficiais da
prefeitura dizem que 62% das
casas de Heliópolis têm esgoto.
No núcleo miserável da favela,
nenhuma tem. Pelas vielas estreitas e íngremes, em que um
carro não consegue passar, pisa-se em água de banho, de lavagem de roupas, de descarga
de privada.
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