São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2005

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PORTAL PAULISTANO

Ex-telefonista não sobe no mirante pois tem medo de altura

Vani mora há 15 anos na torre com sua família

DA REPORTAGEM LOCAL

O cheiro do rio e o barulho dos veículos que rodam pela marginal Tietê não são motivos para Vani Vilanova, de 59 anos, querer mudar da sua casa-mirante. Há 15 anos, ela vive com sua família em uma das torres instaladas na ponte das Bandeiras, sobre o rio Tietê.
Foi nesse espaço que ela criou os seus três filhos. Ex-telefonista, não encontrou um lugar melhor para morar. "A localização é ótima, perto do centro."
Sua vida será bastante afetada com a restauração da ponte das Bandeiras e a recuperação das torres -ela terá de procurar uma nova moradia. Principalmente porque a ex-telefonista gosta de seu espaço. No térreo do mirante, Vani montou a sua casa de quarto-sala-cozinha. Ela afirma sentir saudades dos tempos em que a prefeitura ainda mantinha os serviços de água e iluminação. "Nem o barulho na marginal me atrapalhava. A gente se acostuma com ele e consegue dormir bem", conta a ex-telefonista.
"A situação só ficou ruim quando o [Celso] Pitta virou prefeito [1997 a 2000]. Ele mandou cortar a água e a luz daqui", afirma.
Atualmente, ela enche a caixa-d'água do mirante uma vez por semana com um caminhão-pipa e tem energia elétrica apenas porque puxou um "gato" do poste que fica na rua.

Medo de altura
A vista da cidade obtida do mirante também não lhe atrai. Com medo de altura e labirintite, ela nunca se aventurou a subir na torre. "Se eu for, não volto mais. Nem tenho curiosidade de ver a vista." Seus filhos, lembra, é que costumavam ir para cima quando eram garotos.
"Fiquei sabendo da reforma e nem sei o que vai acontecer comigo agora", afirma ela. "Vou ter de achar outro lugar para morar, mas não tenho dinheiro. Além de tudo, gosto daqui."
Ela nem tinha idéia de que o mirante é uma das obras-primas do então prefeito Prestes Maia (1938-1945), construída para substituir a ponte metálica que passava sobre o rio Tietê e que se chamava ponte Grande. Atualmente a estrutura conecta dois lados da capital e integra o chamado corredor norte-sul, que inclui a avenida cujo nome homenageia o ex-prefeito.
Dentro da obra-prima de Prestes Maia, Vani conta que gosta de arte. "Acho bonito ver uma escultura, um quadro, mas não entendo nada disso." Em sua casa-mirante, quebra-cabeças reproduzindo pinturas famosas, como a da Santa Ceia, enfeitam as paredes. "São os meus filhos que montam", explica.


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