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Legacy deveria ter mudado de altitude 2 vezes
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais uma peça do quebra-cabeças da tragédia foi adicionada ao tabuleiro ontem: o plano
de vôo original do Legacy previa que ele mudasse de posição
não apenas uma, mas duas vezes antes do ponto onde houve
o choque com o Boeing da Gol.
Além de baixar de 37 mil para
36 mil pés ao passar por Brasília e entrar na "aerovia" UZ6,
ele deveria subir para 38 mil
pés em um ponto da carta aeronáutica chamado Teres, 480
km a noroeste de Brasília. O
choque ocorreu 400 km depois,
sobre a serra do Cachimbo.
Em ambos os casos, o Legacy
deveria usar a pista par da aerovia -aviões rumo a Manaus
têm de ficar em altitude par (38
mil pés, por exemplo), enquanto os que vêm de Manaus rumam nas ímpares (37 mil pés).
Pelas regras vigentes no espaço aéreo brasileiro, no caso
de corte completo de comunicações, o piloto deve seguir seu
plano de vôo original. Se não
houver o corte, o avião tem que
pedir autorização para qualquer mudança de nível.
O Legacy tem dois transponders, a antena que transmite
dados sobre altitude, identificação e velocidade, além de conectar seu sistema anticolisão
ao de outros aviões. Ou seja, ontem era dada como remota a hipótese inicial de ter havido mau
contato. Como o jato reapareceu na tela em Brasília com os
dados de seu transponder logo
após o choque, a hipótese de
que a antena tenha sido desligada ganhou força.
Com tudo isso, boa parte das
atenções se volta para o comportamento dos pilotos e o desempenho do controle em terra. Os americanos dizem não
ter mudado de altitude porque
não teriam conseguido contato
com o Cindacta-1.
Relatos de operadores do
centro dão conta de que o avião
deveria ter sido contatado ao
passar pela capital, mas que só
depois isso ocorreu -justamente quando foi notado que o
transponder estava inoperante.
Quando isso aconteceu, o
avião passou a ser um ponto na
tela do chamado radar primário do centro, sem as identificações, que são captadas pelo radar secundário. Neste momento, houve as tentativas, cinco
por relatos extra-oficiais, de
contato entre Brasília e o Legacy. A Força Aérea considera
que o jato não respondeu aos
chamados, só não sabe por quê.
O Comando da Aeronáutica
admite que as freqüências de
rádio na região são de má qualidade, mas alega que houve contato por elas com outros aviões
no mesmo trecho e horário.
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