São Paulo, quinta, 6 de novembro de 1997.



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VIOLÊNCIA 3
Seguranças são apontados como responsáveis pelo desaparecimento e recebidos a gritos de "assassinos"
Família não crê em morte por afogamento

da Reportagem Local

A família do estudante Daniel Pereira de Araújo, 15, não acredita que ele tenha morrido afogado. Desde o início, a família culpou os seguranças da universidade pelo desaparecimento. Com o encontro do corpo na raia olímpica, a opinião não mudou.
"Não é possível que o corpo tenha sido encontrado de madrugada, em um lugar totalmente escuro e que já tinha sido vasculhado pelos bombeiros e pela polícia", afirmou a bancária Denilza Pereira de Araújo, 21, irmã de Daniel.
O auxiliar de informática Djalma Pereira de Araújo, 21, irmão mais velho de Daniel, afirma que o estudante sabia nadar "muito bem" e conhecia o local. "Duvido que ele tenha morrido afogado. Ele costumava nadar na raia desde criança."
Durante o depoimento dos seguranças, cerca de 200 pessoas protestaram na porta da delegacia. A maioria dos manifestantes estudava com Daniel na escola municipal Euclides Figueiredo, que suspendeu as aulas devido à morte.
Quando os seguranças chegaram, foram recebidos com os gritos de "assassinos".
Manifestação
Onze entidades de funcionários da USP e de moradores do Butantã (zona sudoeste) fazem hoje manifestação em protesto contra a morte de Daniel e para pedir uma rigorosa apuração do caso.
A manifestação terá início às 12h30 em frente à casa de Daniel, na favela São Remo, e irá em passeata até a reitoria da USP.
O protesto coincide com o segundo turno da eleição para reitor da USP. Algumas entidades que organizam a manifestação, como a Adusp (Associação dos Docentes da USP) e o Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), culpam a política do atual reitor, Flávio Fava de Moraes, pela morte de Daniel.
"Isso é fruto da política da reitoria, que colocou uma redoma ao redor do campus. A ordem do reitor à guarda universitária é reprimir a entrada na universidade, o que deve ter causado essa morte", afirmou o professor Jair Borin, presidente da Adusp.
O velório de Daniel começou às 21h de ontem, na favela São Remo. O enterro deve ocorrer às 9h de hoje no cemitério Dom Bosco, em Perus (zona noroeste de SP).
(OTÁVIO CABRAL)


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