São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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URBANIDADE

O professor Manelão

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

A Ceagesp é conhecida não só pelas frutas, verduras e flores mas também pelo tumulto dos caminhões que entopem as ruas de suas redondezas, produzindo as mais variadas modalidades de poluição. Há tempos, aquela movimentação passou a ser indesejada pelos moradores dos bairros mais próximos, onde vivem personagens da elite paulistana, felizes com a perspectiva anunciada de que os comerciantes se mudem para as proximidades do Rodoanel.
Em meio à balbúrdia dos caminhões e do movimento de centenas de milhares de caixas freneticamente empilhadas e desempilhadas, surgiu neste ano uma estufa-escola para embelezar São Paulo -e operada por adolescentes.
Em um programa batizado de Centro de Estudo Ambiental, a estufa-escola é uma idéia de Manuel da Silva Filho (Manelão), 51 anos, que trabalha há três décadas como gerente de uma banca de frutas instalada na Ceagesp. Os adolescentes aprendem paisagismo e jardinagem. Depois, treinam o que aprenderam em suas comunidades. Atuam como agentes comunitários de arte. "O que eles aprendem aqui transformam em beleza nas ruas", conta Manelão.
Tudo começou quando pediram a Manelão que tocasse a Associação Nossa Turma, que funcionava na Ceagesp, mas, praticamente falida, atendia apenas 12 crianças. "Confesso que não entendia nada de trabalho comunitário nem de educação." Ele acredita que parte de sua motivação venha de um sentimento de culpa. "Eu não vi meus filhos crescerem, trabalhava 17 horas por dia. Vendo esses meninos, eu recupero um pouco do que perdi."
O paisagismo comunitário é apenas parte de um programa que, graças ao empenho de Manelão em sair à cata de parcerias, oferece reforço escolar, oficinas de arte e aulas de esporte e de música, atingindo 500 crianças e adolescentes, filhos dos funcionários da Ceagesp e de moradores dos bairros próximos.
A escola alternativa de Manelão está ameaçada, se for confirmada a transferência da Ceagesp. Mas ele parece não se abalar. "Se o nosso trabalho for bem-feito, não tem como acabar. Em último caso, mudamos para outro lugar."
E-mail - gdimen@uol.com.br

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