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MOACYR SCLIAR
Zoológicas
Até elefantas gostam de se
olhar no espelho! E isso,
segundo os cientistas,
é prova de inteligência
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1. Onça
Uma fêmea de onça-parda invadiu um
hospital em Naviraí (352 km de Campo
Grande, MS). A onça, que estava escondida
sob um balcão de atendimento, foi sedada
por um veterinário. Após foi removida para uma clínica veterinária, onde exames
mostraram que estava em perfeito estado
de saúde. Cotidiano Online, 31 de outubro
"Senhor diretor: pelo presente, quero relatar um incidente ocorrido no hospital
que V.S. dirige e que é uma prova do
mau atendimento prestado às pessoas que, como eu, ali comparecem.
No último dia 30 lá fui eu para consultar. Não era nenhuma coisa grave, mas cuido de minha saúde e gosto de fazer revisões periódicas para
saber se está tudo certo comigo. Dirigi-me à recepção, onde disseram
que eu teria de aguardar.
Como o senhor está cansado de
saber, esta é a regra: sempre tem de
aguardar. Sempre tem fila. Sempre
tem outros na frente. Mas isso até
não me incomoda muito, já estou
acostumada. Levo sempre comigo
uma revista e fico lendo. E foi o que
eu fiz: sentei na sala de espera e comecei a ler a minha revista. E aí
aconteceu: de repente, surgiu do nada uma onça e simplesmente entrou
no consultório.
Sim, eu imagino sua explicação:
trata-se de animal feroz, incontrolável etc. Mas suspeito que não seja
bem assim. Acho que se trata de uma
onça domesticada e mais, que tem
privilégios, tanto que um veterinário foi chamado logo em seguida.
Quer dizer: pessoas têm de esperar,
onças não. Como se dizia antigamente, prezado diretor, o senhor é
um legítimo amigo da onça. E é por
isso que, na próxima consulta, vou
botar meu charmoso vestido estilo
oncinha. Talvez eu consiga então furar a fila."
2. Elefanta
Os elefantes, assim como os grandes primatas, têm a capacidade de se reconhecer quando se olham no espelho, segundo pesquisadores americanos. Eles puseram três fêmeas do zoológico de Bronx
(Nova York) em frente a um grande espelho. As elefantas observaram suas
imagens e comprovaram sua identidade
com movimentos corporais; até inspecionaram o interior da tromba. O estudo
demonstra que os elefantes têm uma vida social complexa e um alto nível de inteligência. Ciência Online, 30 de outubro
"MEU CARO esposo: estou
anexando a esta um recorte de jornal que me
parece muito oportuno. Refere-se a
elefantes (elefantas, melhor dizendo), mas tem muito a ver com nossa
situação. Não é pouco o que temos
brigado, como você muito bem sabe.
E temos brigado sobretudo por causa de sua irritação, de sua intolerância. Você me acusa de vaidosa, você
diz que passo a vida na frente do espelho me olhando, apesar de (sempre segundo suas palavras) ser uma
elefanta de tão gorda. Mais: você diz
que pessoas que se olham demais no
espelho não têm inteligência e que
são incapazes de prestar atenção aos
outros.
Durante muito tempo aceitei em
silêncio suas acusações porque, de
fato, não tinha argumentos para lhe
responder. Agora, no entanto, a
ciência veio em meu socorro.
Você vê, até elefantas gostam de se
olhar no espelho! E isso, segundo os
cientistas, é prova de inteligência e
da capacidade para ter uma vida social complexa. E em busca de uma
vida social complexa eu irei, caro esposo. Estou lhe deixando. Vou viver
com um próspero empresário, gordo e vaidoso como eu. Ele ganha
muito dinheiro fabricando espelhos.
Tenho certeza de que me compreenderá."
MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto
de ficção baseado em notícias publicadas na Folha
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