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Gravações apontam que PCC passa por sufoco financeiro
Grupo criminoso já não consegue nem pagar o transporte dos parentes dos presos nos dias de visita para os presídios
Polícia elaborou documento em que relata como a facção decidiu reformular sua organização interna após os ataques no Estado de SP
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Gravações telefônicas obtidas pela polícia indicam que o
PCC (Primeiro Comando da
Capital) enfrenta dificuldades
financeiras após a reação do governo de São Paulo aos ataques
desencadeados nos meses de
maio, julho e agosto.
As escutas foram feitas nos
dias 19 e 23 de setembro nos celulares de oito presos ligados
aos chefes da facção criminosa
-identificados no documento
oficial apenas como Gegê, Espirro, Paca, Antrax, Criança,
Mané, Veinho e Gaspar.
O PCC estaria tendo problemas até para bancar os cerca de
R$ 50 mil gastos, a cada 20 dias,
com o transporte dos parentes
dos presos nos dias de visita,
uma das prioridades do grupo.
Com base nas gravações, a
polícia preparou um documento de "alerta", que foi distribuído para as principais autoridades do Estado de São Paulo na
área de segurança pública.
Segundo esse documento,
obtido pela Folha, em razão da
falta de recursos, a facção criminosa reduziu o valor do "bicho-papão" (espécie de imposto da facção cobrado de criminosos que não estão presos) de
R$ 1.000 para R$ 550, com o
intuito de fazer com que mais
bandidos contribuam.
Além disso, segundo o documento, a facção decidiu reformular sua organização interna
- deixará de ter o comando totalmente centralizado na mãos
de criminosos presos.
Com as mudanças, as "torres" (espécie de gerente) do
grupo serão autônomas, ou seja, os chefes do grupo que estão
na rua não precisam mais do
aval dos que estão presos para
comandar crimes e vice-versa.
A mudança estrutural é decorrente das mortes e do maior
rigor imposto aos chefes do
PCC a partir das três ondas de
violência promovidas pela facção contra as forças de segurança neste ano.
Para os criminosos flagrados
nas escutas, em vez dos ataques, teria sido uma alternativa
melhor de enfrentamento a
distribuição de cartas à sociedade com denúncias sobre o
que eles acreditam ser injusto
no sistema penitenciário.
A partir das gravações, o governo paulista também descobriu que o PCC prepara para os
próximos dias uma ação violenta contra criminosos do litoral do Estado ligados ao traficante Ronaldo Duarte Barsotti
de Freitas, o Naldinho. O traficante, que foi preso com Edson
Cholbi Nascimento, o Edinho,
filho do Pelé, em junho de
2005, é apontado pela polícia
como o líder do tráfico na região da Baixada Santista. A
ação teria como objetivo tomar
pontos de drogas e, assim, aumentar o caixa da facção.
O alerta às autoridades da segurança pública também prevê
que a guerra programada pelo
PCC contra os comparsas de
Naldinho vai gerar "sensação
de insegurança" e "refletir negativamente na mídia".
O relatório destaca que os
membros do PCC na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (620 km de SP), todos supostamente com poder de manipulação junto aos demais
presos, têm acesso a celulares.
Outro lado
Por meio de sua assessora de
imprensa, Rosana Garcia, o secretário da Administração Penitenciária, Antônio Ferreira
Pinto, foi procurado pela reportagem na noite de ontem.
Segundo ela, aos sábados e domingos, Ferreira Pinto tem como princípio profissional pronunciar-se apenas em casos de
rebeliões, por exemplo.
A assessora se recusou a levar
ao conhecimento do secretário
as denúncias de que os presos
de Presidente Venceslau 2, teoricamente isolados, hoje têm
acesso a telefones celulares.
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