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Médicos e bispo criticam denúncia de pacientes que interromperam gravidez
DA SUCURSAL DO RIO
Mesmo que seja contra o
aborto, o médico de uma paciente que chega ao hospital
com complicações por causa da
prática malfeita não deve denunciá-la à polícia. Essa é a opinião de dois médicos e um bispo católico ouvidos pela Folha.
Na opinião de Jorge Andalaft
Neto, presidente da comissão
nacional especializada em Violência Sexual e Interrupção da
Gestação da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações
de Ginecologia e Obstetrícia),
não é função do médico denunciar um paciente à polícia.
"Ele pode anotar as informações que recebeu no prontuário médico e, se for o caso, avisar a direção do hospital. Não
cabe a ele chamar a polícia. Criminalizar a mulher não vai resolver a vida dela. Ela já está
passando por uma situação terrível", diz Neto.
Ele explica que o caso de um
crime de aborto é diferente do
de um bandido que chega baleado ao hospital, por exemplo.
"Todo ferimento, seja ele a bala, a faca ou por agressão, tem
de ser investigado. Para isso
existem policiais e até investigadores de plantão em alguns
hospitais. Mas uma mulher que
chega com hemorragia pode
estar até mesmo com um aborto espontâneo."
O ginecologista Luis Fernando Moraes, diretor do Conselho Regional de Medicina do
Rio de Janeiro, diz que nunca
denunciaria uma paciente à
polícia pelo crime de aborto:
"Sou cristão, católico, mas, como médico, entendo que é preciso perceber as distorções da
sociedade. Isso só acontece
com mulheres muito pobres.
Elas já são punidas por não terem acesso a métodos anticoncepcionais," diz.
Moraes afirma, no entanto,
que o médico que denuncia
uma mulher por aborto não fere a ética médica.
O presidente da Comissão
para a Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, dom Rafael Cifuentes,
diz que, do ponto de vista religioso, não vê motivos para um
médico chamar a polícia em caso de aborto.
"A igreja defende que a mulher seja tratada com todo carinho e compreensão, mas isso
não quer dizer que aceitamos
descriminar o aborto. O caráter
da lei deve ser preventivo, para
que as pessoas saibam que é
crime e reflitam antes de tomar
essa atitude", diz.
Cifuentes defende a posição
da igreja contrária ao aborto.
"Adotamos o princípio científico de que o feto é um ser humano. A fecundação é um marco do início da vida. Daí para a
frente, qualquer método para
destruí-la é assassinato", diz.
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