São Paulo, segunda-feira, 06 de novembro de 2006

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Médicos e bispo criticam denúncia de pacientes que interromperam gravidez

DA SUCURSAL DO RIO

Mesmo que seja contra o aborto, o médico de uma paciente que chega ao hospital com complicações por causa da prática malfeita não deve denunciá-la à polícia. Essa é a opinião de dois médicos e um bispo católico ouvidos pela Folha.
Na opinião de Jorge Andalaft Neto, presidente da comissão nacional especializada em Violência Sexual e Interrupção da Gestação da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), não é função do médico denunciar um paciente à polícia.
"Ele pode anotar as informações que recebeu no prontuário médico e, se for o caso, avisar a direção do hospital. Não cabe a ele chamar a polícia. Criminalizar a mulher não vai resolver a vida dela. Ela já está passando por uma situação terrível", diz Neto.
Ele explica que o caso de um crime de aborto é diferente do de um bandido que chega baleado ao hospital, por exemplo. "Todo ferimento, seja ele a bala, a faca ou por agressão, tem de ser investigado. Para isso existem policiais e até investigadores de plantão em alguns hospitais. Mas uma mulher que chega com hemorragia pode estar até mesmo com um aborto espontâneo."
O ginecologista Luis Fernando Moraes, diretor do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, diz que nunca denunciaria uma paciente à polícia pelo crime de aborto: "Sou cristão, católico, mas, como médico, entendo que é preciso perceber as distorções da sociedade. Isso só acontece com mulheres muito pobres. Elas já são punidas por não terem acesso a métodos anticoncepcionais," diz.
Moraes afirma, no entanto, que o médico que denuncia uma mulher por aborto não fere a ética médica.
O presidente da Comissão para a Vida e Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Rafael Cifuentes, diz que, do ponto de vista religioso, não vê motivos para um médico chamar a polícia em caso de aborto.
"A igreja defende que a mulher seja tratada com todo carinho e compreensão, mas isso não quer dizer que aceitamos descriminar o aborto. O caráter da lei deve ser preventivo, para que as pessoas saibam que é crime e reflitam antes de tomar essa atitude", diz.
Cifuentes defende a posição da igreja contrária ao aborto.
"Adotamos o princípio científico de que o feto é um ser humano. A fecundação é um marco do início da vida. Daí para a frente, qualquer método para destruí-la é assassinato", diz.


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