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MARIA INÊS DOLCI
Abaixo a ditadura financeira!
O Supremo Tribunal Federal
(STF) volta a concentrar as
atenções dos brasileiros. Tudo indica -com o STF, tão célere na
defesa dos direitos do então deputado federal José Dirceu, nunca se
sabe!- que, finalmente, será votada a Ação Direta de Constitucionalidade nš 2.591, movida pela
Confederação Nacional do Sistema Financeiro (Consif). O objetivo
da 2.591 é evitar, para todo o sempre, que os bancos sejam, digamos,
incomodados pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).
Inicialmente previsto para ocorrer amanhã, o julgamento da
Adin foi adiado para o próximo
dia 14.
Afinal, os banqueiros têm se esfalfado, nos últimos anos, para obter um lucro que, somente em
2004, conforme matéria desta Folha, chegou a R$ 20,7 bilhões. Submeter-se ao CDC traria responsabilidades indevidas, como as cobranças para que melhorassem o
atendimento a seus correntistas, e
àqueles que utilizam seus serviços
ocasionalmente.
Também seria desagradável, para as instituições financeiras que
compõem um grupo conhecido como "mercado", que manda e desmanda nos rumos do Brasil, serem questionadas pelos absurdos
que promovem contra os mutuários do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), criado com fins sociais, mas que se transformou no
maior pesadelo possível e imaginável. Aliás, em 2006 findarão vários contratos firmados na vigência do Plano Collor.
Como alguns leitores devem se
lembrar, em 1990, após o Plano
Collor, os bancos que financiavam
imóveis, em nome do SFH, utilizaram o Bônus do Tesouro Nacional
Fiscal (BTNf) para atualizar, monetariamente, os saldos das cadernetas de poupança, ou seja,
41,28%. E o Índice de Preços ao
Consumidor (IPC), de 72,78%
(março de 1990) ou 84,32% (abril
de 1990), para corrigir os saldos
dos financiamentos habitacionais.
São temas como esses que os
banqueiros não querem enfrentar,
sob a égide de um código que não
lhes é submisso. Quando os bancos
tiveram dificuldades com seus balanços, em 1996, contaram com
um programa de socorro, o Proer,
que foi muito bem-sucedido, haja
vista seus lucros bilionários dos últimos anos.
Mas os mutuários do SFH foram
entregues às feras, e lutam na Justiça contra as chicanas dos bancos, que ingressam, ao mesmo
tempo, com diversas ações para
lhes tomar o imóvel. E, não saciados, destruir-lhes a dignidade, incluindo seus nomes nos cadastros
fascistas que há no Brasil, contra
os desvalidos de todos os tipos.
É por isso que a Adin nš 2.591 é
tão importante, que motivou este
segundo artigo, em pouco tempo,
sobre esse tema. Não se trata de
falta de assunto, mas de prioridade: o Brasil está em uma encruzilhada. De um lado, um começo
de jornada mais digna, em que os
bancos perderão parte de seu poder absoluto, e terão que prestar
contas à sociedade, como o fazem
lojistas, industriais e prestadores
de serviços.
Há um outro caminho, terrível,
se os nobres e preclaros ministros
do STF decidirem que os bancos
estão livres para fazer o que quiserem, como acontece desde que
as caravelas de Cabral aqui aportaram. É um futuro sem cidadania, sem dignidade, sem direitos.
Livres de uma ditadura militar,
que durou mais de duas décadas,
perpetuaremos a ditadura financeira.
E-mail - midolci@yahoo.com.br
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