São Paulo, terça-feira, 06 de dezembro de 2005

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VIOLÊNCIA

Welington, Luciano e mais 2 menores e um adulto foram mortos durante ação em Niterói; para coronel, todos eram traficantes

Polícia mata garotos de 11 e de 12 anos no Rio

TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Os meninos Welington Santiago Oliveira Lima, 11, e Luciano Rocha Tavares, 12, foram mortos por policiais militares do Rio durante uma operação no morro do Estado, em Niterói (15 km do Rio). Outros dois menores e um jovem também morreram.
A polícia afirma que as vítimas faziam parte do tráfico de drogas, inclusive as duas crianças. Moradores, porém, negam a acusação.
Os 12 PMs envolvidos na ação, em que nenhum policial se feriu, estão sob investigação e foram deslocados para outros batalhões. O laudo dos exames cadavéricos sairá hoje. A polícia quer saber se há sinais de execução.
Segundo o comandante do 12º BPM, coronel Marcus Jardim, os policiais faziam operação rotineira no morro do Estado, por volta das 18h de sábado, quando traficantes atiraram contra eles.
Ainda segundo ele, houve tiroteio intenso e seis supostos traficantes foram alvejados. Além dos cinco mortos, um garoto de 13 anos foi ferido na perna e corre o risco de amputá-la.
A mãe de Welington, Fernanda Antônio de Oliveira, 28, afirmou que vai à Justiça para provar que seu filho não era um criminoso. Ele estava na 2ª série do ensino fundamental, fazia parte dos projetos Gerson (escolinha de futebol) e Percussão do Samba, onde estudava música.
"Vou mostrar a todos que meu filho não era traficante. Quero uma perícia detalhada do tiro que matou meu filho. O sonho dele era ser jogador de futebol", disse.
Ela contou que o filho tinha ido comprar refrigerante quando começou o tiroteio: "Um policial ficou gritando que ele era traficante, arrastou ele pela perna como um porco e o matou com um tiro na cabeça".
Rosa da Silva, 39, mãe de Luciano, lembra que ele estava na 5ª série. "Era um bom aluno. Não tem culpa de morar no morro."
O único adulto morto na ação foi o flanelinha Wedson da Conceição, 24. Ele tinha uma filha de 3 anos. "Era trabalhador. Tenho certeza de que não era traficante", disse uma parente.
José Maicon dos Santos, 16, outro morto na ação policial, já havia sido detido em 2004 por porte ilegal de armas, segundo a polícia. Durante seu enterro, seu pai, o auxiliar de serviços gerais José Fragoso, 41, disse achar que o filho não fazia parte do tráfico.
O outro garoto morto na ação foi Edmilson Santos da Conceição, 15. Seus parentes não quiseram dar declarações.
No final da tarde, cerca de cem moradores fizeram uma passeata pelo centro de Niterói.
Segundo a polícia, com os cinco mortos, foram apreendidos uma metralhadora, duas pistolas, um revólver, além de cocaína e maconha. "A história mostra que as crianças fazem, sim, parte do tráfico. Em maio, prendemos um menino de 12 anos que confessou ter matado um sargento da PM. Tenho certeza de que faziam parte [do tráfico]", disse o coronel.


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