|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CENSO 2000
De 1991 até o ano passado, as áreas habitadas irregularmente na capital passaram de 585 para 612
Fuga do aluguel dissemina favelas em SP
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde que se mudou de Alagoas
para São Paulo, há sete anos, a
operária Maria Nazaré de Lima
trabalhou como passadeira em fábricas de roupa. Há quatro anos,
passou um período desempregada e tomou uma decisão: trocou a
casa alugada, em Ermelino Matarazzo (zona leste), por um barraco na favela conhecida como Fase
3, no mesmo bairro.
A decisão de escapar do aluguel
e de trocar ruas asfaltadas, água
encanada e registro de luz pela
precariedade das favelas vem se
consolidando como uma tendência na cidade de São Paulo.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
o número de favelas na capital aumentou de 585, em 1991, para 612,
em 2000. Nos dois períodos, a cidade ficou em primeiro no ranking do número de favelas.
O aumento de 27 favelas pode
parecer pequeno, mas o dado não
é totalmente representativo da
precariedade da situação habitacional, já que não registra o crescimento populacional nas favelas já
existentes em 91.
Naquele ano, por exemplo, a
União de Vila Nova (em São Miguel Paulista, na zona leste) já
existia, mas com um número de
habitantes próximo a 370 famílias. Atualmente, a favela abriga
cerca de 6.000 famílias.
Segundo líderes comunitários
da zona leste, a União de Vila Nova é uma das favelas que mais
cresceram nos últimos anos. Anteriormente restrita a um pequeno conjunto nas proximidades da
avenida São Miguel, a favela se expandiu e seus limites ameaçam
cruzar a fronteira entre a capital e
o município de Guarulhos.
Ocupação desordenada
A formação da favela Fase 3 ilustra bem a ocupação desordenada
da periferia. Há quatro anos, não
existia nenhum barraco no local
onde hoje se aglomeram de 120 a
180 moradias precárias.
A favela surgiu ao lado da Vila
Nossa Senhora Aparecida, uma
das mais antigas da zona leste,
com cerca de 30 anos.
A Vila Nossa Senhora Aparecida é dividida em duas partes, conhecidas como Fase 1 e Fase 2. As
duas partes foram urbanizadas
durante a gestão da então prefeita
Luiza Erundina (89-92).
Sonho da urbanização
Atraídos pelo calçamento e outras obras de infra-estrutura, os
fundadores da favela vizinha acabaram batizando o local de Fase 3,
na esperança de que também fosse urbanizado.
A Fase 3 é separada da Vila Nossa Senhora Aparecida por uma
fossa a céu aberto tão grande que
forma uma cachoeira de dejetos.
O sonho da urbanização continua, mas há oito anos não há nenhum movimento nessa direção.
Apesar disso, a proximidade com
a parte urbanizada faz com que os
barracos, apesar de construídos
sobre fossas e córregos, tenham
seu preço valorizado.
"Um dia vão asfaltar isso aqui",
diz a alagoana Isaurina Maria de
Jesus Vieira, 66, que se mudou no
último domingo para a Fase 3, onde já moram seus filhos. Ela pagou R$ 1,5 mil por um barraco de
dois cômodos (feito de restos de
madeira), construído em uma
área de barranco que tem um esgoto embaixo.
Financiamento
Um estudo feito pela FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), com base em dados de 97 do Ibge, mostra que as
famílias que ganham até dez salários mínimos não têm opções de
financiamento para adquirir casa
própria.
Uma aparente contradição é
que o número de domicílios próprios aumentou de 55,5% para
63,5%, entre 80 e 91. A explicação
é justamente o aumento de "casas
próprias" na favela, apesar de essas residências não terem nenhum documento de posse e serem construídas em terrenos de
terceiros, geralmente do poder
público ou de empresas privadas.
Texto Anterior: Nome teve origem no conflito de Canudos, em 1897 Próximo Texto: Periferia atrai novos ocupantes Índice
|