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SAÚDE
EUA testam nova droga contra o câncer
CÉLIA CHAIM
DA REPORTAGEM LOCAL
A agência americana FDA
(Food and Drug Administration)
aprovou recentemente a utilização de um novo fotossensibilizador (produto químico sensível à
luz) capaz de matar células malignas do corpo humano.
A chamada terapia fotodinâmica (PDT do inglês) é uma nova
modalidade terapêutica e soma-se à radioterapia e/ou quimioterapia na luta contra o câncer.
A PDT envolve a interação simultânea de um fotossensibilizador, luz (em geral proveniente de
um laser) e oxigênio molecular (já
existente nas células).
O fotossensibilizador, uma vez
injetado no paciente, tem a capacidade de ficar retido mais tempo
nas células malignas do que nas
células normais ao seu redor.
Esse intervalo de tempo, que depende das características do próprio fotossensibilizador e do tecido a ser tratado, gira em torno de
48 horas.
A região é então iluminada com
um laser, e sua energia é absorvida pelo fotossensibilizador e
transferida para o oxigênio molecular presente nas "células alvo",
desencadeando uma cascata de
eventos, como produção de oxigênio num estado "excitado"
(chamado oxigênio singlete), que
induzem a morte celular.
É uma técnica interdisciplinar
que promove estreito envolvimento da área médica, áreas básicas da ciência (física, química e
biologia) e áreas tecnológicas.
O tratamento funciona assim: o
paciente recebe na veia o químico,
que se espalha por todas as células
de seu corpo. Em seguida, as células sadias começam a expelir o
medicamento.
O paciente, então, volta para casa com a recomendação de não
expor nem os dedos dos pés ao sol
durante uma semana, sob pena de
enfrentar sofrimento semelhante
ao provocado por queimaduras
de segundo e terceiro graus.
Após 36-48 horas, o momento
em que a maior quantidade do
medicamento se encontra preferencialmente nas células tumorais, ele retorna ao hospital.
Demarcada a área-alvo, aplica-se um laser de cor vermelha (cor
no espectro visível de maior penetração no tecido humano).
O tratamento luminoso pode
variar entre 10 e 60 minutos, é indolor e não requer internação.
Após a aplicação do laser, o paciente volta para casa ainda com a
proibição de se expor ao sol
-que pode durar até um mês.
A vantagem da técnica é que
não possui os efeitos colaterais
inerentes à radiação ionizante e/
ou à quimioterapia, e pode ser repetida tanto quanto necessário.
Com a aprovação do Photofrin
(primeira geração de fotossensibilizadores) para o câncer de esôfago (1995) e para o câncer de pulmão (1998), houve um grande interesse por parte de várias universidades e companhias químicas
de todo o mundo para pesquisar
novos agentes fotodinâmicos.
O objetivo é obter produtos
mais puros, com maior poder de
retenção no tecido maligno e absorção luminosa máxima.
Além disso, busca-se uma eliminação mais rápida no tecido
normal, diminuindo a sensibilidade do paciente à luz solar (a
grande desvantagem dos fotossensibilizadores de primeira geração, que exigem proteção total do
sol por um mês, em geral).
O Pc 4 (Silicon Phthacyanine 4)
é uma arma promissora nesse novo conceito de tratamento médico. Essa segunda geração de fotossensibilizadores vem sendo
testada em sistemas celulares e
em animais há alguns anos.
Foi inteiramente desenvolvida
na Case Western Reserve University (CWRU), em Cleveland, que é
responsável pela avaliação da
droga e promove com exclusividade os estudos pré-clínicos.
Seus resultados promissores levaram o National Cancer Institute
(NCI) americano a aprovar os testes clínicos em seres humanos no
University Hospitals of Cleveland,
que faz a avaliação e o recrutamento dos pacientes. Os testes começam neste mês com vários voluntários.
É uma conquista assinada por
um trabalho de equipe envolvendo pesquisadores e clínicos, inclusive o físico brasileiro Valdir Carlos Colussi, de uma família de
Santa Rita do Passa Quatro, no interior de São Paulo, um dos principais estudiosos dessa segunda
geração de fotossensibilizadores.
"Os resultados são significativos
no sentido de dar um enorme
passo rumo à cura do câncer", diz
Colussi. Ele mora nos EUA há
quatro anos, é Ph.D em ciências
médicas pela Unicamp e trabalha
no University Hospitals of Cleveland como fisico-médico.
Colussi conta que a pesquisa em
animais ocorreu até 1999. Foi o
chamado período pré-clínico, iniciado em 1994. A liberação do Pc 4
para testes em seres humanos foi
obtida em novembro. O prazo de
experimentação vai até 2004.
A partir de agora, os cientistas
do hospital americano aplicarão o
Pc 4 aprovado em câncer metastático de pele (aquele que é recorrente de outros locais).
De 2004 em diante, se os testes
forem bem sucedidos, a droga será testada em outras regiões do
corpo humano, como esôfago,
pulmão, cérebro e próstata.
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