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Cidade de AL deve 22 meses de salário
ANDRÉA MICHAEL
ENVIADA ESPECIAL A PALMEIRA DOS ÍNDIOS
É fácil localizar a sede da Prefeitura de Palmeira dos Índios. "É
aquele prédio azul, com um urubu em cima", indicam os transeuntes. O urubu é, na verdade,
uma águia branca. Mas a analogia
entre o pássaro negro e a má-sorte
que paira sobre a cidade não poderia ser mais sugestiva.
Situada a 135 quilômetros de
Maceió, na divisa com Pernambuco, Palmeira dos Índios tem dívidas que somam R$ 17,7 milhões.
A situação dos 1.790 funcionários
municipais é dramática: 22 folhas
de pagamento penduradas -e
sem previsão de recebê-las.
"Meu compromisso número
um é pagar em dia os funcionários, de janeiro em diante", diz o
prefeito Albérico Cordeiro (PTB),
que assumiu o mandato no dia 1º.
O passivo são outros quinhentos. Ou melhor, cabem a outros
prefeitos, começando por Maria
José de Carvalho Nascimento.
A juíza Sônia Brandão chegou a
determinar o bloqueio da conta
da prefeitura no dia 27 de dezembro. Mas a decisão foi derrubada
pelo Tribunal de Justiça, que liberou o dinheiro condicionando
sua utilização ao pagamento das
folhas devidas. "Essa decisão do
Tribunal não me foi comunicada.
Só sei que ela (Maria José) já sacou o dinheiro em Maceió."
A prefeita teria sacado R$ 80 mil
na boca do caixa em Maceió. Mas
até o dia 30 de dezembro não havia registro de pagamento ao funcionalismo. "Ela cumpriu a lei:
pagou aos parentes que contratou", diz Cordeiro. A Folha apurou que a prefeita emprega pelo
menos nove funcionários com os
quais tem algum parentesco.
A casa de Maria José na avenida
Salu Branco está fechada. Alípio
de Carvalho, tio e vizinho da ex-prefeita, disse à Folha que ela está
em Maceió. "Parentes e advogados recomendaram-lhe que não
voltasse agora para evitar sofrer
ameaças de funcionários."
Terceira maior cidade do Estado de Alagoas, Palmeira dos Índios é um município pobre. Vive
dos R$ 500 mil mensais que recebe do Fundo de Participação dos
Municípios. Cerca de 35% dos
seus 68 mil habitantes vivem na
zona rural. Produzem feijão, arroz e mandioca para trocar nas
feiras de rua de quarta e sábado
por porcos, galinhas e bodes.
As precárias ofertas de emprego
incluem o frete de mercadorias
transportadas em carrinhos de
mão. De acordo com o percurso, a
corrida custa de R$ 1 a R$ 3. Os
meninos suam, param, mas para
o cliente sai mais barato do que
contratar o lombo de um burro:
de R$ 5 em diante.
Graciliano Ramos, autor de "Vidas Secas" e "Memórias do Cárcere" foi prefeito de Palmeira dos Índios em 1928 e 1929.
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