São Paulo, domingo, 07 de janeiro de 2001

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Cidade de AL deve 22 meses de salário

ANDRÉA MICHAEL
ENVIADA ESPECIAL A PALMEIRA DOS ÍNDIOS

É fácil localizar a sede da Prefeitura de Palmeira dos Índios. "É aquele prédio azul, com um urubu em cima", indicam os transeuntes. O urubu é, na verdade, uma águia branca. Mas a analogia entre o pássaro negro e a má-sorte que paira sobre a cidade não poderia ser mais sugestiva.
Situada a 135 quilômetros de Maceió, na divisa com Pernambuco, Palmeira dos Índios tem dívidas que somam R$ 17,7 milhões. A situação dos 1.790 funcionários municipais é dramática: 22 folhas de pagamento penduradas -e sem previsão de recebê-las.
"Meu compromisso número um é pagar em dia os funcionários, de janeiro em diante", diz o prefeito Albérico Cordeiro (PTB), que assumiu o mandato no dia 1º.
O passivo são outros quinhentos. Ou melhor, cabem a outros prefeitos, começando por Maria José de Carvalho Nascimento.
A juíza Sônia Brandão chegou a determinar o bloqueio da conta da prefeitura no dia 27 de dezembro. Mas a decisão foi derrubada pelo Tribunal de Justiça, que liberou o dinheiro condicionando sua utilização ao pagamento das folhas devidas. "Essa decisão do Tribunal não me foi comunicada. Só sei que ela (Maria José) já sacou o dinheiro em Maceió."
A prefeita teria sacado R$ 80 mil na boca do caixa em Maceió. Mas até o dia 30 de dezembro não havia registro de pagamento ao funcionalismo. "Ela cumpriu a lei: pagou aos parentes que contratou", diz Cordeiro. A Folha apurou que a prefeita emprega pelo menos nove funcionários com os quais tem algum parentesco.
A casa de Maria José na avenida Salu Branco está fechada. Alípio de Carvalho, tio e vizinho da ex-prefeita, disse à Folha que ela está em Maceió. "Parentes e advogados recomendaram-lhe que não voltasse agora para evitar sofrer ameaças de funcionários."
Terceira maior cidade do Estado de Alagoas, Palmeira dos Índios é um município pobre. Vive dos R$ 500 mil mensais que recebe do Fundo de Participação dos Municípios. Cerca de 35% dos seus 68 mil habitantes vivem na zona rural. Produzem feijão, arroz e mandioca para trocar nas feiras de rua de quarta e sábado por porcos, galinhas e bodes.
As precárias ofertas de emprego incluem o frete de mercadorias transportadas em carrinhos de mão. De acordo com o percurso, a corrida custa de R$ 1 a R$ 3. Os meninos suam, param, mas para o cliente sai mais barato do que contratar o lombo de um burro: de R$ 5 em diante.
Graciliano Ramos, autor de "Vidas Secas" e "Memórias do Cárcere" foi prefeito de Palmeira dos Índios em 1928 e 1929.


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