São Paulo, sábado, 07 de janeiro de 2006

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ESTRANHOS NO PARAÍSO

Família quer apressar volta do estudante Rodrigo

Brasileiro é espancado na Austrália

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

A família do estudante Rodrigo Antenor Nunes de Souza, 26, espancado por jovens australianos na virada do ano em Gold Coast (1.251 km da capital Canberra), tenta desde ontem conseguir um vôo para trazê-lo de volta ao Brasil antes do previsto.
Devido às festas de final de ano e das férias, todos os aviões estão lotados. O visto de Rodrigo vence em 27 de fevereiro, dia em que estava marcada a volta.
Com fraturas no maxilar, dentes quebrados e sentindo muita dor, o estudante brasileiro ainda sente os efeitos da agressão. Quase não fala e tem dificuldade para se virar sozinho, contam os parentes.
A família, de São José (SC), quer que ele realize um tratamento odontológico no Brasil. Segundo o irmão, Volnei Souza Jr., 27, ele já perdeu o curso de inglês que foi fazer lá -pois ficará internado- e, por isso, não há mais motivo para continuar no local.
O irmão afirma que Rodrigo foi vítima de um ataque xenófobo. Após o estouro dos fogos, à 1h, um rapaz lhe pediu um cigarro, conta, e ele negou, em inglês. O rapaz insistiu, e ele novamente disse não, agora em português.
"Aí o rapaz gritou "brazilian" e veio gente de tudo quanto é canto para agredi-lo. A namorada e os amigos saíram de perto e o perderam de vista", relata o irmão.
De acordo com ele, Rodrigo só foi encontrado às 9h, em um hospital localizado a 30 km de sua casa, em uma cidade vizinha.
Teve de passar por uma cirurgia para reconstituir o maxilar. Mas, à família, diz que não está sendo medicado corretamente.
Aluno de ciências contábeis da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), Rodrigo decidiu trancar a matrícula e ir à Austrália estudar inglês. Escolheu Gold Coast pelas ondas -é surfista-, mas logo que chegou arranjou emprego, como entregador de pizza.

Sem queixas
O irmão diz que ele nunca havia comentado nada sobre xenofobia no país. A namorada, nascida em Taiwan, também está na cidade e não foi alvo das agressões.
"Não vamos processar o país, mas estamos dispostos a ajudar caso haja uma mobilização para que isso [aversão ao estrangeiro] tenha um fim", diz Volnei.
Em dezembro, 5.000 jovens -vários enrolados em bandeiras australianas e cantando músicas de cunho racista contra árabes- invadiram uma praia e atacaram um grupo em Sydney.


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