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Três denunciam tortura na Febem
ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local
Três adolescentes denunciaram
ontem suposta prática de tortura
por funcionários do Complexo da
Febem (Fundação do Bem-Estar
do Menor) da Imigrantes, em São
Paulo.
Os menores prestaram depoimento no 97º DP, em Americanópolis, zona sul.
Eles disseram que levaram socos, chutes e apanharam com cabo
de vassoura porque estavam conversando e brincando de jogar chinelos uns nos outros.
As supostas agressões foram reveladas anteontem pelos menores
ao padre Júlio Lancellotti em visita
à UAP-6 (Unidade de Acolhimento Provisório).
Marcas
O padre Lancellotti, que é coordenador da Pastoral do Menor do
Belém, acompanhava uma equipe
da TV italiana RAI, que está produzindo uma reportagem sobre o
consumo de crack entre crianças
de rua.
``Verificamos as marcas das
agressões aos menores e os convencemos a denunciar a tortura à
polícia'', disse Lancellotti.
Segundo ele, o funcionário
apontado como sendo o principal
agressor teria mandado o menor
M.C.R., 14, contar à polícia que as
marcas produzidas em F.V.O., 14,
e L.A.O., 17, teriam sido resultado
de uma briga entre eles.
``Se a gente não contasse essa
história, o monitor disse que mataria a gente'', afirmou L.A.O.
Segundo ele, outras crianças sofreram agressões semelhantes nos
últimos dias na unidade. ``Tem
tortura em todas as unidades.''
``Refresco e pastel''
Segundo os menores, além de
socos e chutes, os internos seriam
vítimas de agressões conhecidas
como ``refresco'' e ``pastel''.
No primeiro caso, o garoto é
mantido de frente a uma parede, a
meio metro de distância.
Com as pernas afastadas, ele
apóia o peso do corpo sobre a cabeça, constada na parede. No segundo, os garotos ficam agachados, sem camisa, e recebem tapas
nas costas.
Haveria outra forma de agressão
que consiste em mandar o garoto
sentar e manter os ouvidos pressionados contra as coxas.
``Nada justifica que menores,
sob a custódia do Estado, sejam
torturados'', disse o padre Júlio
Lancellotti.
Ele afirmou que encaminhará ao
Ministério Público denúncias de
omissão da direção da unidade em
relação às agressões e o caso de
tortura dos três adolescentes.
O delegado do 97º DP, Enjolras
de Araújo, instaurou inquérito de
lesão corporal dolosa e encaminhou os garotos para exame de
corpo de delito.
Hoje, ele deverá ouvir o principal suspeito das agressões.
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