São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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SAÚDE

Medida foi adotada no final de 2003 pela secretaria estadual, que alegou que hospitais estavam ultrapassando o teto de gastos

Corte de verba afeta tratamento de câncer

FERNANDA BASSETTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

Os Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacons) dos hospitais de São Paulo reduziram o atendimento clínico de pacientes com câncer em razão do corte do extrateto, subsidiado pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
A medida foi adotada pela Secretaria de Estado da Saúde no final de 2003 sob a justificativa de que os hospitais ultrapassam muito o limite contratual, não havendo mais como realizar um remanejamento de recursos.
A secretaria diz que, em 2003, gastou R$ 30 milhões a mais que o previsto com extratetos. Em 2002, foram gastos R$ 195 milhões para tratamento de câncer no Estado -o valor não inclui internações.
Em Jaú (SP), o hospital Amaral Carvalho, referência em câncer de medula óssea no Estado, teve o teto extra suprimido e mantém o atendimento médio de 3.433 pacientes por mês com o dinheiro da fundação mantenedora. O teto mensal do Amaral Carvalho é R$ 711 mil, mas o hospital chega a gastar R$ 1,5 milhão.
Na região de Campinas (SP), a medida já afetou o Hospital Universitário de Bragança Paulista e o Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba, que não atendem mais novos pacientes.
Em Bragança, o teto mensal repassado pelo Estado para tratamento oncológico no Hospital Universitário é R$ 70 mil. O hospital estava gastando, em média, R$ 184 mil. Segundo o coordenador do Centro Integrado de Oncologia do hospital, Darwin Zacharias, o valor extrateto permitia atender e tratar, em média, 40 pacientes a mais por mês.
Maria de Lourdes Campos Garcia, 62, de Atibaia, que teve de procurar atendimento em um hospital de São Paulo. Ela descobriu um tumor em outubro, no hospital de Bragança, mas não teve como continuar o tratamento.
"Consegui realizar a primeira sessão de quimioterapia em São Paulo, no final do mês passado."
O Hospital do Câncer A.C. Camargo de São Paulo não aumenta os atendimentos nos últimos três anos, diz Daniel Daheinzelin, diretor-clínico. O Hospital do Câncer e o Inca (Instituto Nacional de Câncer) são os únicos Cacons de nível 3 do país, aqueles que atendem os casos mais complicados.
De acordo com Daheinzelin, houve aumentos sucessivos dos valores pagos pelo SUS por procedimento. Mas a unidade continua tendo o mesmo limite. Assim, um determinado procedimento custava R$ 10 e foi reajustado para R$ 20, mas o hospital continua tendo R$ 100 para gastar.
A Secretaria de Estado da Saúde informou, por sua assessoria de imprensa, que o corte do extrateto foi necessário e que o Estado está buscando aumentar o repasse de verbas no ministério.
Afirmou ainda que não tem como saber quantos pacientes deixaram de ser atendidos.
O Ministério da Saúde informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que os repasses do SUS aos Estados não sofreram corte e que, no caso de São Paulo, houve um aumento constante dos recursos no decorrer de 2003.


Colaborou FABIANE LEITE, da Reportagem Local


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