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DE CAMAROTE
O silicone é nosso
XICO SÁ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Se o petróleo é o nosso, como
sonhou Monteiro Lobato, o silicone, seu mais nobre derivado, é um
orgulho verde-amarelo. O macho
nacional popular, que cresceu sob
a ditadura da "tanajurice" feminina, agora é feliz na ida e na volta
das suas musas e flores mestiças
do bairro.
"Passei a vida sendo vista apenas por trás, agora descobri como
é bom ser uma mulher com lado
A e lado B", disse-me V., amiga do
Rio, enquanto submetia a nova
comissão de frente a um test-drive.
Seja na mulata bossa nova, na
mestiçagem "funk soul brother",
na ruivinha de Higienópolis ou na
rainha da laje, o silicone é a reinvenção da força divina como modeladora estética e romântica,
coisa que Pixinguinha disse faz
tempo: "Tu és divina e graciosa,
estátua majestosa/ o amor, por
Deus esculturada/ E formada com
ardor/ Da alma da mais linda flor
de mais ativo olor (...)".
Como o esporte predileto do
Brasil é a exclusão, é bom que se
diga: o silicone não veio para humilhar os lindos peitinhos das
"boyzinhas", como são chamadas
as lolitas no Pernambuco pós-Nassau. Voltando a Monteiro Lobato, o gosto de cada um é a chave
do tamanho.
Mas só os muito canalhas ou
puristas hipócritas deixam de vibrar com a beleza das deusas siliconadas na avenida. São menos
verdadeiros do que os peitos que
tomam as suas retinas conservadoras. Se tudo no Brasil é mais ou
menos falso, por que logo a comissão de frente teria essa obrigação de ser verdadeira? Ah, essa
terra já cumpriu seu ideal, nosso
sonho agora é paraguaio.
Xico Sá foi colunista "Macho" da Revista
da Folha e é autor de "Modos de Macho
& Modinhas de Fêmea" (editora Record,
156 páginas)
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