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Serra defende autonomia para acordos entre Estados e EUA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O governador de São Paulo,
José Serra (PSDB), defendeu
ontem que os Estados tenham
autonomia para fechar acordos
próprios de cooperação com os
Estados Unidos, especialmente
na área de segurança.
Atualmente, o governo federal não admite relações bilaterais dos Estados com Washington. Serra acha que bastaria um
"acompanhamento federal".
Esses foi um dos temas do almoço de ontem, em São Paulo,
entre Serra e dois dos principais homens da hierarquia do
Departamento de Estado norte-americano, Nicholas Burns,
subsecretário de Política, e
Thomas Shannon, responsável
pela América Latina.
Serra considera que, na área
de segurança, há muitas frentes
de cooperação passíveis de entendimentos, especialmente
no que chama de "tecnologia de
combate ao crime" (o que inclui
equipamentos) e na troca de informações. Como discutiram
ontem, o crime organizado não
tem fronteiras, é uma questão
global.
Cocaína e pirataria
Conforme a Folha apurou,
os enviados do governo George
W. Bush manifestaram especial preocupação com a produção de cocaína na Bolívia e destacaram que o escoadouro geográfico natural da matéria-prima e da droga pronta é o Brasil.
Com o governo Evo Morales,
conhecido como "líder cocaleiro", a avaliação brasileira é de
que a produção de cocaína possa experimentar um "boom",
com reflexos evidentes sobre o
Brasil e sobre o farto mercado
norte-americano para a droga.
Além disso, o governador de
São Paulo lembrou que há 200
mil bolivianos vivendo no Estado, boa parte deles de forma
ilegal. Ao contrário dos EUA,
que tentam manter uma forte
prática de vigilância de estrangeiros ilegais, não há no Brasil
nenhum tipo de ação coordenada nessa área.
Outro assunto da conversa
entre Serra, Burns e Shannon
foi a pirataria, que está sempre
na pauta prioritária dos EUA,
mas também incomoda o Brasil. O governador disse que o
Brasil nem produz pirataria,
como a China, por exemplo,
nem tributa a mercadoria pirata que recebe de outros países.
Como comparação, disse a
Burns e Shannon que, para os
chineses, pirataria significa negócios, mas para o Brasil significa desemprego e estímulo ao
crime organizado.
Outros governadores
Os dois enviados norte-americanos também terão um almoço em Brasília com outros
governadores.
Estão convidados Aécio Neves (PSDB-MG), Jaques Wagner (PT-BA), Yeda Crusius
(PSDB-RS) e Sérgio Cabral
(PMDB-RJ).
O interesse de Washington é
principalmente listar as áreas
sensíveis para os Estados brasileiros e passíveis de cooperação
com os EUA.
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