São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2009

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PF prende acusado de gerir finanças de grupo de Abadía

O colombiano Jorge Rincón Ordonez foi preso em Curitiba

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal prendeu ontem em Curitiba o traficante colombiano Jorge Rincón Ordonez, apontado como responsável pelas finanças do grupo liderado pelo também colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía. Abadía foi preso no Brasil em agosto de 2007 e extraditado para os EUA um ano depois, onde era considerado um dos maiores traficantes do mundo.
Rincón veio ao Brasil, segundo a PF, para finalizar a compra de um avião turbo-hélice Gulfstream, avaliado em US$ 1,1 milhão (R$ 2,5 milhões), que seria usado para levar cocaína para os EUA ou para o México.
O avião, de 18 lugares, teve seus bancos retirados, numa reforma concluída nesta semana, e voaria até domingo para o Panamá. Lá, de acordo a PF, o avião receberia uma carga de cocaína. Além de ficar sem os bancos, o avião ganhou um tanque extra de combustível para ter mais autonomia de voo.
Rincón era procurado por tráfico de cocaína nos EUA -onde uma tonelada pode valer no atacado de US$ 30 milhões (R$ 67,5 milhões) a US$ 80 milhões (R$ 180,5 milhões), dependendo do grau de pureza, segundo o DEA (polícia antidrogas dos EUA).
O avião foi apreendido, assim como cinco veículos e US$ 12 mil (R$ 27 mil) em notas. Na investigação, os policiais encontraram seis contas na Europa, cujos saldos somam US$ 500 milhões (cerca de R$ 1,13 bilhão). A PF pede o bloqueio de valor por meio do Ministério da Justiça. As contas estão na Holanda, Alemanha e Itália.
"Há fortes indícios de que essas contas pertençam a Abadía", disse o delegado Ricardo Saadi, que coordenou a chamada Operação Aquário (era essa palavra que Abadía usava para designar os lugares onde escondia dinheiro). A polícia norte-americana estima que Abadía juntou uma fortuna de US$ 1,8 bilhão (R$ 4,1 bilhões).
Na semana passada, na investigação sobre Daniel Dantas, o mesmo delegado conseguiu com que a Justiça de três países (EUA, Reino Unido e Suíça) bloqueasse US$ 2 bilhões (R$ 4,5 bilhões).
Além de Rincón, foram presas oito pessoas, entre as quais dois pilotos de avião e um morador de São Paulo que cuidou da compra do avião. Três pessoas estão foragidas, diz a PF. Dos 12 que tiveram a prisão decretada, há seis brasileiros, cinco colombianos e um alemão.
A PF diz ter encontrado Rincón ao investigar onde estariam os US$ 35 milhões (R$ 78,8 milhões) que Abadía ofereceu à Justiça brasileira em dezembro de 2007 para que seu processo fosse extinto. Ao notar que seria extraditado de qualquer forma do Brasil, por pressão dos EUA, Abadía retirou a oferta. O juiz Fausto Martin de Sanctis determinou então que a PF abrisse um inquérito para encontrar o dinheiro.
Segundo o delegado, são "muito fortes" os indícios de que Rincón deu continuidade aos negócios de Abadía. Até ser preso, Abadía era apontado como o líder do cartel do Vale do Norte, o mais poderoso da Colômbia depois do desmantelamento do cartel de Cali.
O dinheiro para a compra do avião entrou legalmente no Brasil, de acordo com Saadi. Veio como investimento estrangeiro em empresa de exportação. Empresas de fachada também eram usadas para movimentar recursos no Brasil.
As contas na Europa foram abertas em nome de pessoas inexistentes ou empresas de fachada, diz a PF. Essas duas características -e os indícios de que receberam dinheiro do tráfico- devem facilitar o bloqueio, na avaliação de Saadi.


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