|
Próximo Texto | Índice
Escola verde-rosa foi prejudicada pela quebra de carros alegóricos
Mangueira tropeça, e Salgueiro surpreende
Juca Varella/Folha Imagem
|
Integrante da comissão de frente da Mangueira ergue no ar um boneco, após simular o parto de dom Obá, príncipe da nação iorubá que chegou ao Brasil como escravo, tema do enredo da escola |
Salgueirenses levantam o sambódromo com samba
animado e alegorias luxuosas; protesto da Unidos da
Tijuca contra a censura da Igreja Católica fracassa
|
ALEXANDRE MARON
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
MARCELO OLIVEIRA
enviado especial ao Rio
A Mangueira fez ontem um desfile "black power", com um terço
dos 4.500 integrantes negros, e
conseguiu quebrar a frieza do
sambódromo encenando um
parto em plena avenida.
Tropeçou, porém, na evolução:
problemas com dois carros alegóricos criaram buracos entre as
alas. O carro alegórico que levava
a apresentadora Carla Perez e a
socialite Vera Loyola quebrou na
pista, e pedaços tiveram de ser arrancados pelos auxiliares.
Com samba animado e carros
luxuosos, o Salgueiro também
surpreendeu ontem, no segundo
dia de desfiles do Grupo Especial
do Rio, e conseguiu levantar o
sambódromo.
O público acompanhou a passagem da escola batendo palmas no
ritmo do samba.
Acabou superando o favoritismo da escola verde-rosa, que levou 800 negros nas duas primeiras alas do enredo sobre dom
Obá, um príncipe africano que
chegou ao Brasil como escravo e
lutou pela liberdade dos negros.
A comissão de frente, puxada
pelo dançarino Carlinhos de Jesus, arrancou aplausos: 10 homens e 5 mulheres trocavam de
roupa, se transformando de nobres em príncipes e vice-versa.
Na coreografia, a comissão contava o nascimento de dom Obá:
uma das integrantes da comissão
era erguida pelos demais, abria as
pernas e, no ar, dava à luz. O bebê,
um boneco ensanguentado com
cordão umbilical, movimentava
braços e pernas.
À frente da bateria, três passistas da comunidade, lideradas por
Márcia dos Santos, 28, professora
de samba na escolinha mantida
no morro da Mangueira, e um filho de 7 anos. Sambando durante
uma rápida entrevista, Márcia
disse que se orgulhava de não ter
"uma gota de silicone no corpo".
O Salgueiro desfilou depois da
Mangueira, abordando a vinda da
família real no século 19. A comissão de frente era formada por soldados franceses e a escola foi uma
das poucas a ter todos os seus
componentes cantando seu samba-enredo.
Antes do desfile da Mangueira,
a Unidos da Tijuca fez um "protesto frustrado" pela pressão da
Igreja Católica contra o uso de
símbolos religiosos no Carnaval:
o painel com a imagem de Nossa
Senhora da Boa Esperança tinha
apenas uma silhueta branca no
lugar da estátua.
O painel era encoberto por uma
persiana com a cruz de Malta pintada. Mas um problema técnico
com a persiana, que não abria e
fechava como programado, acabou atrapalhando o protesto, porque mais se via a cruz que a silhueta da imagem. Na frente do
painel, dançavam o travesti Aloma e a atleta Dora Bria.
O carnavalesco da escola, Chico
Spinoza, disse que o novo painel
representava "uma ausência".
"Foi um belo desfile. Saiu como
queríamos. Nós brasileiros, quando somos censurados, ficamos
mais fortes", disse.
A "polêmica da santa" foi o assunto da semana no Rio porque a
Arquidiocese do Rio conseguiu
apreender o painel e uma cruz de
madeira. As alegorias foram liberadas pela Justiça.
No sábado, representantes da
escola e da Arquidiocese chegaram a novo acordo: ficou decidido que a cruz sairia no carro representando a primeira missa no
Brasil, mas o painel da santa seria
modificado.
Próximo Texto: Problema técnico frustra protesto da Unidos da Tijuca Índice
|