São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2000


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Escola verde-rosa foi prejudicada pela quebra de carros alegóricos
Mangueira tropeça, e Salgueiro surpreende

Juca Varella/Folha Imagem
Integrante da comissão de frente da Mangueira ergue no ar um boneco, após simular o parto de dom Obá, príncipe da nação iorubá que chegou ao Brasil como escravo, tema do enredo da escola



Salgueirenses levantam o sambódromo com samba animado e alegorias luxuosas; protesto da Unidos da Tijuca contra a censura da Igreja Católica fracassa


ALEXANDRE MARON
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

MARCELO OLIVEIRA
enviado especial ao Rio

A Mangueira fez ontem um desfile "black power", com um terço dos 4.500 integrantes negros, e conseguiu quebrar a frieza do sambódromo encenando um parto em plena avenida.
Tropeçou, porém, na evolução: problemas com dois carros alegóricos criaram buracos entre as alas. O carro alegórico que levava a apresentadora Carla Perez e a socialite Vera Loyola quebrou na pista, e pedaços tiveram de ser arrancados pelos auxiliares.
Com samba animado e carros luxuosos, o Salgueiro também surpreendeu ontem, no segundo dia de desfiles do Grupo Especial do Rio, e conseguiu levantar o sambódromo.
O público acompanhou a passagem da escola batendo palmas no ritmo do samba.
Acabou superando o favoritismo da escola verde-rosa, que levou 800 negros nas duas primeiras alas do enredo sobre dom Obá, um príncipe africano que chegou ao Brasil como escravo e lutou pela liberdade dos negros.
A comissão de frente, puxada pelo dançarino Carlinhos de Jesus, arrancou aplausos: 10 homens e 5 mulheres trocavam de roupa, se transformando de nobres em príncipes e vice-versa.
Na coreografia, a comissão contava o nascimento de dom Obá: uma das integrantes da comissão era erguida pelos demais, abria as pernas e, no ar, dava à luz. O bebê, um boneco ensanguentado com cordão umbilical, movimentava braços e pernas.
À frente da bateria, três passistas da comunidade, lideradas por Márcia dos Santos, 28, professora de samba na escolinha mantida no morro da Mangueira, e um filho de 7 anos. Sambando durante uma rápida entrevista, Márcia disse que se orgulhava de não ter "uma gota de silicone no corpo".
O Salgueiro desfilou depois da Mangueira, abordando a vinda da família real no século 19. A comissão de frente era formada por soldados franceses e a escola foi uma das poucas a ter todos os seus componentes cantando seu samba-enredo.
Antes do desfile da Mangueira, a Unidos da Tijuca fez um "protesto frustrado" pela pressão da Igreja Católica contra o uso de símbolos religiosos no Carnaval: o painel com a imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança tinha apenas uma silhueta branca no lugar da estátua.
O painel era encoberto por uma persiana com a cruz de Malta pintada. Mas um problema técnico com a persiana, que não abria e fechava como programado, acabou atrapalhando o protesto, porque mais se via a cruz que a silhueta da imagem. Na frente do painel, dançavam o travesti Aloma e a atleta Dora Bria.
O carnavalesco da escola, Chico Spinoza, disse que o novo painel representava "uma ausência". "Foi um belo desfile. Saiu como queríamos. Nós brasileiros, quando somos censurados, ficamos mais fortes", disse.
A "polêmica da santa" foi o assunto da semana no Rio porque a Arquidiocese do Rio conseguiu apreender o painel e uma cruz de madeira. As alegorias foram liberadas pela Justiça.
No sábado, representantes da escola e da Arquidiocese chegaram a novo acordo: ficou decidido que a cruz sairia no carro representando a primeira missa no Brasil, mas o painel da santa seria modificado.


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