São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2000


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Escola manifestou-se contra apreensão de alegorias a pedido da igreja
Problema técnico frustra protesto da Unidos da Tijuca

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Ala da escola de samba Unidos da Tijuca, que abriu o segundo dia de desfiles no Sambódromo do RJ e foi bastante aplaudida pelo público em razão do protesto contra a pressão religiosa


ALEXANDRE MARON
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

MARCELO OLIVEIRA
enviado especial ao Rio

A Unidos da Tijuca abriu ontem o segundo dia do desfile do Grupo Especial com um "protesto frustrado" pela pressão da Igreja Católica contra o uso de símbolos religiosos no Carnaval: o painel com a imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança tinha apenas uma silhueta branca em seu lugar.
O painel era encoberto por uma persiana com a cruz de Malta pintada. Um problema técnico com a persiana, que não abria e fechava como programado, atrapalhou o protesto, porque mais se via a cruz que a silhueta da santa. Na frente do painel, dançavam o travesti Aloma e a atleta Dora Bria.
O painel empolgou o público. Saiu no carro que simbolizava as navegações portuguesas no enredo sobre o descobrimento do Brasil. A imagem foi dada por dom Manuel, rei de Portugal, a Pedro Álvares Cabral.
O carnavalesco da escola, Chico Spinoza, disse que o novo painel representava "uma ausência".
A "polêmica da santa" foi o assunto da semana porque a Arquidiocese do Rio conseguiu apreender o painel e uma cruz de madeira. A Justiça liberou as alegorias.
No sábado, representantes da escola e da Arquidiocese chegaram a novo acordo: ficou decidido que a cruz sairia no carro representando a primeira missa no Brasil, mas o painel seria modificado.
A Unidos da Tijuca acabou capitalizando positivamente os efeitos da "polêmica da santa": criou uma expectativa incomum para o primeiro desfile da noite, reservado a escolas vindas do Grupo de Acesso, espécie de segunda divisão do desfile.
A atriz Maitê Proença, destaque da Unidos da Tijuca, disse que símbolos religiosos não são propriedade da Igreja Católica. "A idéia era fazer uma homenagem. Se a igreja não gosta da festa, que brigue com o Carnaval, faça um plebiscito, para ver quem é mais forte", afirmou.
A atleta Dora Bria, destaque no carro da santa, discordou. Disse que não gostou da presença de um travesti ao lado do painel. "Acho desrespeitoso, mas não vou criar caso agora", afirmou.
Se dependesse de torcida, a Mangueira, segunda escola prevista para passar ontem, poderia levantar a avenida. Antes mesmo de o desfile ter início, mangueirenses já lotavam as arquibancadas com bandeiras e balões verde-rosa. Eles ovacionaram o mangueirense Jamelão, 86, o mais antigo dos puxadores.


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