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TRIBO IMPROVISADA
Pataxós de Coroa Vermelha integraram blocos; agência disfarçou baianos
Salvador importa índios para comemorar o descobrimento
DANIELA FALCÃO
enviada especial a Salvador
Cocar, apito, pintura nos rostos
e saiões com fios de palha. Mais
do que caravelas ou trajes de navegadores portugueses, os índios
foram os principais homenageados nas comemorações dos 500
anos de descobrimento pelos blocos de trio no Carnaval baiano.
Alguns importaram índios de
verdade, como o Apaches do Tororó, que trouxe 200 índios pataxós de Coroa Vermelha (Porto Seguro) para abrir o desfile do bloco
no Campo Grande.
O Apaches, que tem o cantor
Carlinhos Brown como padrinho,
é um dos poucos "blocos de índio"
remanescentes no Carnaval baiano. Seus integrantes se vestem como índios norte-americanos e a
música abusa de percussão e sopro.
Quem não conseguiu trazer
exemplares legítimos, improvisou. A Prefeitura de Salvador contratou uma agência de publicidade para selecionar cem baianos
com biótipo indígena (moreno,
de cabelo preto e liso) e algum talento para dança.
Os selecionados receberam R$
70 para integrar a ala de índios do
Bloco dos 500 anos -iniciativa
oficial para celebrar o descobrimento, que juntou na noite de anteontem estrelas como Gal Costa,
Caetano Veloso, Gilberto Gil e o
trio de Armandinho, Dodô e Osmar.
Como nem todos os escolhidos
tinham o biótipo ideal, o jeito foi
continuar improvisando. Adolescentes de cabelos cacheados disfarçaram o volume das madeixas
com tranças. Quem não era moreno o suficiente, aproveitou o sol
do verão baiano para chegar à cor
ideal.
"Um amigo me disse que estavam fazendo seleção para escolher jovens com jeito de índio e
que soubessem dançar. Achei que
não seria escolhida porque havia
muita gente se inscrevendo. Mas
acabei dando sorte", conta a professora de dança Claudia Araújo,
morena, mas de cabelos cacheados.
Raoni
A Timbalada também usou falsos índios como comissão de
frente do bloco no primeiro dia de
desfile. Cerca de 20 timbaleiros-dançarinos colocaram saiões de
fios de palha para puxar o bloco
pelas ruas da Barra na sexta à tarde.
O cacique Raoni deveria ter sido
a principal atração do trio do cantor Edu Casanova. Mas problemas de saúde da mulher de Raoni
impediram que ele participasse
das comemorações. Seria a segunda vez que ele participaria do
Carnaval baiano.
Além de índios -falsos e verdadeiros- no chão, em cima dos
trios o cocar foi o adereço mais
usado pelas estrelas da axé music.
Ivete Sangalo, Carlinhos Brown,
Gal Costa e Armandinho saíram
com penas coloridas na cabeça,
entre outros adereços.
Carlinhos Brown, como sempre
considerado o mais radical, também adotou a saia com fios vermelhos para completar a indumentária tribal.
Outra que usou cocar foi Daniela Mercury. Só que canudinhos
coloridos ocuparam o lugar das
penas para combinar com o visual tecno do trio da cantora na
noite de sábado, quando saiu pela
Barra acompanhada do DJ Mau
Mau.
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