São Paulo, quinta-feira, 07 de março de 2002

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VIOLÊNCIA

Segundo a polícia, José Edson da Silva confessou ter dado ordem a L., 17, para assassinar prefeito de Santo André

Adolescente diz ter matado Celso Daniel

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

José Edson da Silva, 27, mandou atirar e o adolescente L.S.N., 17, fez sete disparos contra o prefeito de Santo André Celso Daniel (PT). Com a confissão dos dois, a polícia afirma ter esclarecido ontem as circunstâncias do assassinato do prefeito.
Segundo as investigações, Daniel foi capturado por acaso e morto quando os sequestradores descobriram que ele era prefeito. Silva e o adolescente afirmaram, de acordo com o Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), terem retirado Daniel do cativeiro na madrugada do dia 20 de janeiro.
Daniel foi colocado no porta-malas de um Tempra preto, de propriedade de Silva. Quando chegaram a uma estrada deserta, em Juquitiba (Grande São Paulo), Silva teria parado o veículo, retirado o prefeito do porta-malas e mandado que L. o matasse.
Foram um tiro na nuca, dois nas costas e mais quatro no rosto e no tórax. O adolescente usou a pistola 9 milímetros de Silva.
Na Bahia, onde foi preso, Silva dissera que L. havia agido por conta própria. Ontem, porém, admitiu que mandou o adolescente atirar, mas falou que a ordem de dar um "sumiço" em Daniel partira de Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro, suposto líder do grupo.
"Na gíria deles, sumir significa eliminar alguém", disse o delegado Edson Santi, do Deic.
Itamar Messias dos Santos e Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho, presos pela Polícia Federal, afirmaram que Silva desobedecera uma ordem do Monstro para soltar o prefeito.
L. foi preso às 5h de ontem, em sua casa, no bairro Rio Pequeno (zona oeste de SP). Os policiais do Deic só chegaram ao adolescente por causa de Silva, que estava preso desde 28 de fevereiro em Vitória da Conquista (BA) e foi trazido anteontem para São Paulo. Foi Silva que disse que o adolescente, identificado inicialmente como "Alex", seria o autor dos disparos.
A partir da orientação de Silva e de L., a polícia encontrou ontem o local usado como cativeiro de Daniel. O prefeito ficou da madrugada do dia 19 à madrugada do dia 20 em uma pequena chácara na estrada do Vargedo, no km 312,5 da rodovia Régis Bittencourt, entre os municípios de Juquitiba e São Lourenço da Serra.
A chácara não tem água nem luz. Silva pagou R$ 450 por um período de 15 dias.
Nenhum objeto pertencente ao prefeito foi encontrado no local ontem. A polícia ainda não conseguiu identificar os dois homens que teriam vigiado o prefeito no cativeiro. Segundo Silva, Daniel permaneceu calado quando estava em poder dos sequestradores e não disse que era prefeito.
De acordo com Santi, Silva errou se planejava diminuir sua pena mandando o adolescente atirar. "Isso não ameniza a situação dos demais. Todos vão responder pelo sequestro seguido de morte", disse o delegado.
"Pouco importa quem deu os tiros. É bobagem achar que, porque foi um menor, os outros não serão punidos", afirmou o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho.
L. entrou no caso por causa da cumplicidade com Silva, com o qual já praticou outros crimes. O adolescente estava na casa de Silva, em Capão Redondo (zona sul), no dia 19 de janeiro, quando este apareceu falando que precisava de L. para fazer um "serviço".
Os dois saíram da casa de Silva às 23h e foram para o cativeiro. Lá, o adolescente disse que pegou Daniel, que estava sentado no quarto com um capuz na cabeça, e o colocou no carro. L. afirmou que soube que tinha matado um prefeito pela televisão.
Silva falou que enterrara a arma do crime em sua casa, mas que Monstro passou pelo local depois do crime e levou a pistola.
Silva e o adolescente já tinham feito várias crimes juntos. L. confessou ontem ter participado da morte de um travesti, na região do Butantã, em novembro do ano passado. No sequestro relâmpago, o travesti foi assassinado com três tiros porque disse que não tinha dinheiro para dar à dupla.



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