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Namorada diz que professor furou a blitz
FABIANA CIMIERI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
A cabeleireira Rosângela Silva,
46, confirmou ontem que o professor Frederico Branco de Faria,
55, furou uma blitz do Exército
antes de ser morto na madrugada
de terça-feira por um tiro dado
por um militar. Porém, ela disse
não ter ouvido tiros para o alto
antes do disparo fatal, conforme a
versão divulgada pelo Comando
Militar do Leste, que afirma que
os soldados deram tiros de advertência para o alto antes de disparar contra o professor.
O Ministério Público Federal do
Rio de Janeiro instaurou dois procedimentos administrativos para
apurar a morte do professor de
inglês. Um, na área criminal, para
levantar a responsabilidade pela
morte de Faria.
Outro, na área cível, foi aberto
para que a família do professor
possa receber uma indenização
pela sua morte, se a Justiça decidir
que houve responsabilidade da
União no caso.
Frederico Branco de Faria foi a
primeira vítima do Exército durante a Operação Guanabara, que
conta, desde o Carnaval, com a
presença das Forças Armadas no
patrulhamento das vias expressas
da cidade.
Após prestar depoimento na 44ª
DP (Inhaúma, zona norte), Rosângela concedeu uma entrevista
à Folha por telefone.
Ela contou que Faria dirigia em
alta velocidade -não soube dizer
qual. Eles não perceberam que a
blitz era do Exército, afirmou.
"Ele desviou para a rua de baixo,
achávamos que era bandido, não
deu para ver ninguém", disse. Segundo ela, os soldados teriam gritado duas vezes "Pára o carro!"
antes de atirar.
"Só escutei os tiros quando estavam em cima do carro", afirmou
Rosângela, negando ter ouvido tiros dados para o alto.
A cabeleireira disse ainda que
chegou a pedir para que Faria parasse o carro, mas o namorado
não respondeu. "Ele não tinha
motivo nenhum [para não parar".
Ele errou", concluiu ela. "Não sei
se eles [os soldados do Exército"
agiram certo, mas estavam cumprindo seu dever", completou.
Segundo Rosângela, Faria era
tranquilo, bebia apenas socialmente e não era usuário de drogas. Ela disse estar traumatizada
com o acontecido: "Não estou
conseguindo dormir, comer, estou com dores pelo corpo e não
consigo parar de pensar no que
aconteceu".
Justiça Federal
Para o procurador da República
Arthur Gueiros, que requisitou a
abertura de dois procedimentos
administrativos (primeiro passo
da investigação) na Procuradoria
da República do Rio, o caso tem
de ser investigado pela Justiça Federal porque se trata de um suposto crime doloso contra a vida
cometido por um militar.
Gueiros disse que a abertura dos
procedimentos não impede que o
Comando Militar do Leste também apure o caso.
Ontem, a procuradoria enviou
um ofício à Superintendência da
Polícia Federal do Rio, solicitando
a abertura de um inquérito.
Até a conclusão desta edição, a
PF ainda não havia respondido ao
ofício.
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