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São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2003

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Namorada diz que professor furou a blitz

FABIANA CIMIERI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

A cabeleireira Rosângela Silva, 46, confirmou ontem que o professor Frederico Branco de Faria, 55, furou uma blitz do Exército antes de ser morto na madrugada de terça-feira por um tiro dado por um militar. Porém, ela disse não ter ouvido tiros para o alto antes do disparo fatal, conforme a versão divulgada pelo Comando Militar do Leste, que afirma que os soldados deram tiros de advertência para o alto antes de disparar contra o professor.
O Ministério Público Federal do Rio de Janeiro instaurou dois procedimentos administrativos para apurar a morte do professor de inglês. Um, na área criminal, para levantar a responsabilidade pela morte de Faria.
Outro, na área cível, foi aberto para que a família do professor possa receber uma indenização pela sua morte, se a Justiça decidir que houve responsabilidade da União no caso.
Frederico Branco de Faria foi a primeira vítima do Exército durante a Operação Guanabara, que conta, desde o Carnaval, com a presença das Forças Armadas no patrulhamento das vias expressas da cidade.
Após prestar depoimento na 44ª DP (Inhaúma, zona norte), Rosângela concedeu uma entrevista à Folha por telefone.
Ela contou que Faria dirigia em alta velocidade -não soube dizer qual. Eles não perceberam que a blitz era do Exército, afirmou. "Ele desviou para a rua de baixo, achávamos que era bandido, não deu para ver ninguém", disse. Segundo ela, os soldados teriam gritado duas vezes "Pára o carro!" antes de atirar.
"Só escutei os tiros quando estavam em cima do carro", afirmou Rosângela, negando ter ouvido tiros dados para o alto.
A cabeleireira disse ainda que chegou a pedir para que Faria parasse o carro, mas o namorado não respondeu. "Ele não tinha motivo nenhum [para não parar". Ele errou", concluiu ela. "Não sei se eles [os soldados do Exército" agiram certo, mas estavam cumprindo seu dever", completou.
Segundo Rosângela, Faria era tranquilo, bebia apenas socialmente e não era usuário de drogas. Ela disse estar traumatizada com o acontecido: "Não estou conseguindo dormir, comer, estou com dores pelo corpo e não consigo parar de pensar no que aconteceu".

Justiça Federal
Para o procurador da República Arthur Gueiros, que requisitou a abertura de dois procedimentos administrativos (primeiro passo da investigação) na Procuradoria da República do Rio, o caso tem de ser investigado pela Justiça Federal porque se trata de um suposto crime doloso contra a vida cometido por um militar.
Gueiros disse que a abertura dos procedimentos não impede que o Comando Militar do Leste também apure o caso.
Ontem, a procuradoria enviou um ofício à Superintendência da Polícia Federal do Rio, solicitando a abertura de um inquérito.
Até a conclusão desta edição, a PF ainda não havia respondido ao ofício.


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