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Queda da fecundidade entre mulheres de maior renda contribuiu para crise do ensino particular em SP
Natalidade tem impacto na economia
DA SUCURSAL DO RIO
As tendências da fecundidade
nas faixas da população de maior
e menor renda têm efeitos diversos nas políticas públicas e no
mercado.
O caso do setor educacional na
cidade de São Paulo ilustra o impacto dessa diferença.
A queda da fecundidade entre
as mulheres de maior renda em
São Paulo, por exemplo, foi um
dos fatores que levaram o setor de
ensino particular a uma crise na
década de 90.
No mesmo período, a persistência de altos níveis de fecundidade
entre as mulheres mais pobres
tornou-se um desafio para o poder público, por causa do déficit
de vagas em creches e pré-escolas.
Um estudo da consultoria CNA
baseado no censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que a crise nas
escolas particulares de bairros de
classes média e alta -que levou
ao fechamento e à fusão de alguns
colégios- tem uma explicação
demográfica.
"A crise da escola particular em
São Paulo foi baseada em dois fatores. Primeiro, houve uma queda
abrupta da fecundidade entre as
mulheres com poder aquisitivo
para colocar o filho numa escola
particular. Segundo, as escolas
não estavam preparadas para esse
impacto e se expandiram sem levar em conta que a demanda iria
diminuir", diz Eugênio Machado
Cordaro, da CNA.
Se no setor privado a redução da
taxa de fecundidade provocou
uma crise, para o setor público ela
pode trazer benefícios a médio e
longo prazo.
Isso porque municípios, Estados e o governo federal têm um
percentual obrigatório para investimento em educação, definido pela Constituição e por leis
municipais. Se a população infantil diminui, a tendência é dividir o
mesmo percentual obrigatório do
orçamento por um número menor de alunos, aumentando o gasto por criança.
Ana Amélia Camarano, do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), lembra, no entanto,
que, como a queda na fecundidade ocorre de maneira distinta nas
populações de maior e de menor
renda, ela não pode ser utilizada
como pretexto para a redução dos
recursos públicos para crianças e
adolescentes.
"Não se pode minimizar o fato
de que as maiores taxas de fecundidade ainda são encontradas na
população mais carente, que continuará precisando de mais recursos públicos. O que deverá ser feito é focalizar os investimentos públicos nessa população de menor renda", afirma a pesquisadora.
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