São Paulo, sábado, 07 de março de 2009

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Para Lula, decisão da igreja é conservadora e lamentável

"Se o assunto é não matar, todos devemos ser conservadores até a morte", diz arcebispo

Presidente, que se classifica como cristão e católico, no caso da menina de nove anos, "a medicina está mais correta que a igreja"

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
DA ENVIADA ESPECIAL A VITÓRIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a Igreja Católica, classificando como "conservadora" a decisão do arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho, de excomungar a mãe da menina de nove anos que interrompeu a gravidez de gêmeos após ser estuprada pelo padrasto.
Para o presidente, nesse caso, "a medicina está mais correta que a igreja". "Como cristão e como católico, lamento profundamente que um bispo da Igreja Católica tenha um comportamento conservador como este. Não é possível permitir que uma menina estuprada pelo padrasto tenha esse filho, até porque ela corria risco de vida", afirmou o presidente.
Lula acredita que a medicina salvou a vida da menina que, agora, precisará de tratamento psicológico e, segundo ele, "possivelmente levará décadas para voltar à normalidade".
O arcebispo rebateu as críticas do presidente. Disse que para algumas coisas é, sim, conservador. "Se o assunto é não matar, todos devemos ser conservadores até a morte."
Segundo o religioso, Lula deveria procurar uma assessoria teológica antes de se pronunciar sobre o assunto, uma vez que demonstra não conhecer as leis da igreja, apesar de ele se declarar "cristão e católico".
"Até acredito que ele seja [cristão e católico]. Têm pessoas que são católicas, mas que não são suficientemente instruídas sobre a lei de Deus."

Exemplo dentro de casa
A crítica de Lula à Igreja Católica foi feita na manhã de ontem, logo após o lançamento do Programa Território de Paz, em Vitória (ES). Durante o discurso aos moradores do bairro São Pedro, região mais carente da capital capixaba e com elevadas taxas de criminalidade, Lula fez referência ao caso para dizer que os pais precisam dar exemplo dentro de casa.
"A gente não pode também colocar filho no mundo e achar que é o Estado que tem que cuidar. Quem tem que cuidar é a própria família", disse.
Lula lamentou o fato de os meios de comunicação não colaborarem para combater a violência, limitando-se a mostrar casos de jovens delinquentes e ignorando "os milhões que estão estudando e que estão trabalhando". (RENATA BAPTISTA E FERNANDA ODILLA)


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