São Paulo, sábado, 07 de março de 2009

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ANGELO ROZINI (1924-2009)

Homem de reza, passou 22 anos em silêncio

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

O pai de Antônia era homem de reza. "Alto, bonito e de olhos azuis como o céu", costumava seguir a procissão, todo de branco, carregando o estandarte. É assim que Antônia gosta de recordá-lo.
Seu pai foi Angelo Rozini, um filho de trabalhadores rurais nascido em Itajobi (SP) que abriu "picada em beira de mato" em Palmeira D'Oeste (SP), onde plantou café no sítio que teve.
Como andavam precárias as coisas por lá, veio a São Paulo em 1968, em busca de melhores condições. Na capital, trabalhou, por uns bons anos como mestre-de-obras de uma empreiteira.
Seu último emprego foi em 1987: era zelador de um edifício, até o dia em que o carro de uma moradora falhou. Como o veículo insistia em não funcionar, Angelo o empurrou em direção a uma rampa. O esforço foi tanto que travou-lhe a coluna. Naquela noite, sofreu um derrame.
Desde então, nunca mais falou -e andava com dificuldade. Passou os últimos 22 anos comunicando-se apenas por gestos, pois perdera o movimento para a escrita. Apesar das adversidades, a filha o compreendia bem.
Antes do acidente, sua paixão era a horta que cultivava em casa. Era de lá que colhia a couve e a cebolinha que distribuía aos vizinhos de rua. Nunca mais o fez. Viúvo havia um ano, morreu na quarta, aos 84, de falência dos órgãos. Teve cinco filhos, sete netos e um bisneto.

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