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ANGELO ROZINI (1924-2009)
Homem de reza, passou 22 anos em silêncio
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
O pai de Antônia era homem
de reza. "Alto, bonito e de olhos
azuis como o céu", costumava
seguir a procissão, todo de
branco, carregando o estandarte. É assim que Antônia gosta
de recordá-lo.
Seu pai foi Angelo Rozini, um
filho de trabalhadores rurais
nascido em Itajobi (SP) que
abriu "picada em beira de mato" em Palmeira D'Oeste (SP),
onde plantou café no sítio que
teve.
Como andavam precárias as
coisas por lá, veio a São Paulo
em 1968, em busca de melhores
condições. Na capital, trabalhou, por uns bons anos como
mestre-de-obras de uma empreiteira.
Seu último emprego foi em
1987: era zelador de um edifício, até o dia em que o carro de
uma moradora falhou. Como o
veículo insistia em não funcionar, Angelo o empurrou em direção a uma rampa. O esforço
foi tanto que travou-lhe a coluna. Naquela noite, sofreu um
derrame.
Desde então, nunca mais falou -e andava com dificuldade.
Passou os últimos 22 anos comunicando-se apenas por gestos, pois perdera o movimento
para a escrita. Apesar das adversidades, a filha o compreendia bem.
Antes do acidente, sua paixão
era a horta que cultivava em casa. Era de lá que colhia a couve e
a cebolinha que distribuía aos
vizinhos de rua. Nunca mais o
fez. Viúvo havia um ano, morreu na quarta, aos 84, de falência dos órgãos. Teve cinco filhos, sete netos e um bisneto.
obituario@grupofolha.com.br
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