São Paulo, sábado, 07 de março de 2009

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Em dia de praia na av. Paulista, "banhista" é chamado de "vagabundo"

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Em traje de banho, homem "surfa" em plena av. Paulista, em SP, após chuva que refrescou região

VANESSA CORREA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O céu está limpo, é meio-dia e a temperatura já chega aos 32C. Um casal trajando roupa de banho procura o melhor lugar para armar as cadeiras de praia. Já instalados, começam a espalhar o protetor solar. A cena poderia ser trivial, não fosse o cenário escolhido para o banho de sol: o canteiro central da av. Paulista, na altura do Masp.
Do outro lado da calçada, em frente ao parque Trianon, há mais pessoas vivendo um dia de "Praia na Paulista", nome da intervenção urbana organizada pela internet por dois grupos de artistas -Bote no Contra Fluxo e Urubus.
Um casal está encarregado da voz e do violão: ele toca, ela canta e ambos tomam conta do filho pequeno, que brinca embaixo das palmeiras da calçada. A canção diz: "Quem pensa que São Paulo não tem natureza muito se engana, eu e você somos natureza também". A estátua do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva fita com olhar grave a família, como quem não aprova a ousadia.
As cerca de 25 pessoas do grupo já estão devidamente trajadas de biquíni ou sunga para "confrontar a realidade paulistana com a vontade de estar na praia", conforme explicou Ivan Kraut, um dos organizadores. Ele disse esperar que cada pessoa entendesse o ato conforme o que ela mesma gostaria de expressar". O que se via era, de fato, uma variação de reações. Mulheres de roupas formais em hora de almoço faziam coro para dizer que estavam com inveja. Homens aproveitavam para reclamar dos trajes de trabalho masculinos, muito quentes.
Voluntários da WWF (Fundação para a Vida Silvestre) chegaram a pensar que se tratava de um protesto contra o aquecimento global. Uma moradora da avenida, professora aposentada, não se conformava com a exposição ao sol em horário tão impróprio: "é muito perigoso", protestou. A maioria gostou da cena, mas alguns motoristas foram impiedosos -gritavam "vai trabalhar, vagabundo".
O dia de praia sobreviveu à tempestade do meio da tarde e terminou com o por-do-sol, em um "luau" na esquina da Paulista com a rua Augusta.


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