São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2008

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SP tem 400 casos de dengue não registrados

Dados do Estado somam 1.297 no primeiro trimestre; levantamento feito pela Folha mostra que número é 31% superior

Secretaria da Saúde diz que atualiza as informações conforme as ocorrências chegam; Ribeirão Preto teve maior divergência: 59 casos

CLÁUDIA COLLUCCI
MÁRCIO PINHO

DA REPORTAGEM LOCAL

LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

O Estado de São Paulo teve no primeiro trimestre deste ano ao menos 402 casos a mais de dengue do que o número divulgado pelo governo estadual, aponta levantamento da Folha em 164 dos 645 municípios paulistas. A Secretaria Estadual da Saúde diz que atualiza os dados tão logo os recebe dos municípios. Já as prefeituras alegam que o atraso na consolidação é do Estado.
O dado apurado representa alta de 30,99% sobre os 1.297 casos notificados de janeiro a março pelo Estado e divulgados no último dia 28. Mesmo contando os casos não computados, os números são bem inferiores aos do mesmo período do ano passado (44.760).
A queda -de 97,1%, segundo o Estado- foi anunciada em tom de comemoração pelo governo na segunda-feira passada, quando foi lançada a Semana de Mobilização Social Contra a Dengue. No mesmo dia, o governo se calou sobre a primeira morte do ano por dengue no Estado. Uma garota de 18 anos morreu em fevereiro por complicações de dengue na Praia Grande (litoral de SP). A secretaria diz que a morte foi confirmada três dias antes.
A Folha telefonou para 164 prefeituras pedindo os números de casos confirmados (autóctones e importados de outras cidades) até o dia 28 de março -último dia contabilizado no balanço do Estado. Em 55 delas houve diferenças.
A maior divergência ocorreu em Ribeirão Preto, que, em vez dos 175 casos informados, já tinha 234. "Apesar de tecnicamente não ser uma epidemia, a situação é preocupante", disse o secretário municipal da Saúde, Oswaldo Cruz Franco.
Mogi-Guaçu (com 176 casos, 20 a mais que o registrado pelo Estado) vive um estado de epidemia. "É comum a defasagem", diz a bióloga da prefeitura Cristiana Monteiro Ferraz, que diz considerar a diferença um problema de atualização.
Segundo o Ministério da Saúde, uma epidemia se configura quando há 300 casos por 100 mil habitantes.
Araraquara (com 384 casos confirmados até o dia 28) registra surto. Na última sexta, a cidade tinha 472 casos -o maior número do Estado. Quando atingir 600 casos, o total passa a representar uma epidemia.
Em outros 11 municípios, onde não havia casos da doença, segundo o Estado, a Folha encontrou 57 ocorrências.
"O município coloca os dados no sistema, mas não sabemos por que o Estado demora tanto para atualizá-los", diz Sérgio Rumin, coordenador do combate à dengue em Sumaré.

Fora das estatísticas
A dona-de-casa Simone Aparecida da Silva Moura, 37, moradora de Guará, teve o diagnóstico de dengue na segunda semana de março, dias depois de a doença acometer seu marido, Djalma Moura, e o filho Júnior. Na semana passada, a filha mais nova, Ana Gabriela, apresentava sintomas.
Apesar de sofrer os efeitos da doença por quase dez dias, os Moura de Guará, assim com os outros 19 moradores, não integram as estatísticas do Estado.
Até 28 de março, a Prefeitura de Guará computou 23 casos -apenas um deles importado. No ano passado, a cidade teve 21 confirmações. Porém, no boletim da Secretaria de Estado da Saúde, Guará não tem nenhum caso. A secretária municipal da Saúde de Guará, Rosebel Lúpoli, diz que todos os casos foram enviados ao Estado.


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