|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Técnica, já empregada nos EUA e na Suécia, utiliza enxerto feito com células do próprio paciente, multiplicadas em laboratório
SP faz primeiro transplante de cartilagem
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O hospital Albert Einstein realizou o primeiro transplante de cartilagem da América Latina, a partir de células da própria paciente,
que havia sofrido uma lesão no
joelho. O procedimento, feito pela
equipe do ortopedista Moisés Cohen em parceria com Instituto
Biológico, de Campinas, deve ser
repetido em outras três pessoas
ainda neste semestre.
A técnica consiste em retirar células de cartilagem (condrócitos)
de uma região não-lesionada do
joelho do paciente e multiplicá-las
em laboratório. Um mês depois,
essas células são injetadas na área
afetada. A vantagem do método
em relação aos demais, diz Cohen, é a formação de uma cartilagem igual à original.
A cartilagem é um tecido elástico, encontrado nas articulações,
que serve de sustentação e dá mobilidade aos membros. Por ser flexível, ela impede que os ossos se
desgastem, o que provoca dor.
Em seis meses, afirma Cohen,
espera-se que o tecido enxertado
esteja integrado à cartilagem ao
redor da lesão. Durante esse período, a comissária de bordo Lucille Kanzawa, 39, que se submeteu ao transplante, continuará fazendo fisioterapia para fortalecer
a região operada. Ela diz ter sofrido a primeira lesão no joelho há
quatro anos, jogando basquete.
Um ano depois, voltou a sentir
fortes dores no joelho durante
uma escalada. Há dois anos, uma
queda no banheiro do avião afastou-a do trabalho. "Não vejo a hora de largar essas muletas e não
sentir mais dor", afirma Kanzawa.
Segundo o ortopedista Cohen, o
transplante é indicado para traumas, como o de Kanzawa, ou fraturas do joelho. Em 40% das lesões nos joelhos, afirma o ortopedista, a cartilagem é afetada.
O transplante, que já é realizado
nos EUA e na Suécia, tem indicações específicas. A lesão deve ser
limitada e rodeada por uma boa
quantidade de cartilagem para
que, após o implante, haja capacidade de regeneração do tecido.
O tratamento, segundo o ortopedista, é indicado para pessoas
de até 50 anos e não funciona para
casos em que a lesão está disseminada por toda a região ou o tecido
é muito fino, como na artrose e
osteoporose, por exemplo.
Cohen afirma que os tratamentos convencionais -como remédios, suplementos alimentares e
injeções, além de técnicas como a
enxerto osteocondral (mosaicoplastia), em que se retira pedacinhos de osso e cartilagem de outro local para preencher a lesão-
não têm efeito duradouro.
O Hospital Universitário da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro) e o HTO (Hospital
de Traumato-Ortopedia) também estão realizando pesquisas
com células de cartilagem e devem fazer o primeiro transplante
dentro de duas semanas.
Segundo Lais Turqueto, 66, chefe do setor de cirurgia de joelho do
HTO, 15 pessoas estão inscritas
para se submeter ao transplante
nos próximos meses.
Texto Anterior: Violência: Ambulantes atacam dois fiscais que impediam barracas na região da Sé Próximo Texto: Medicamentos: Para ONG, país não deve negociar lei de patentes em acordo comercial Índice
|