São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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INFÂNCIA

Relatório da Polícia Rodoviária Federal indica principais pontos de prostituição e tráfico de menores em estradas

Exploração sexual infanto-juvenil é mapeada

JAIRO MARQUES
TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA

Relatório da PRF (Polícia Rodoviária Federal) aponta focos de exploração sexual infanto-juvenil em pelo menos 12.180 km dos 72 mil km da malha de rodovias federais brasileiras. O documento foi entregue à CPI do Congresso que investiga exploração sexual de crianças no país.
O levantamento foi feito com base em relatos de policiais rodoviários sobre ocorrências que envolviam crianças. Segundo o coordenador do estudo, Junie Penna, chefe da 11ª Delegacia da PRF, em Minas Gerais, de janeiro a março deste ano, de todas as ocorrências que envolviam pessoas com menos de 18 anos, 33,4% tinham relação com exploração sexual.
Há casos de caminhoneiros que transportam e fazem programa com adolescentes e crianças, prostíbulos ao longo das rodovias que usam meninas menores de 18 anos e quadrilhas que se utilizam das estradas para aliciá-las.
Em Mossoró (CE), a Vara da Infância e da Juventude registrou um caso emblemático. A adolescente M.F.S., 16, que é surda-muda, chegou ao município depois de ser explorada por caminhoneiros ao longo de rodovias que passam por Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Fortaleza (CE).
Em muitas ocasiões, a fiscalização da PRF flagra a exploração sexual em operações que tinham a intenção de verificar outras infrações como roubo de cargas ou tráfico de drogas.
Policiais rodoviários perceberam, por exemplo, que a BR-381 (Fernão Dias), entre Belo Horizonte (MG) e Guarulhos (SP), é usada para levar meninas de municípios do interior mineiro para prostíbulos da Grande São Paulo. Na região Norte, seis rodovias são citadas. Duas delas, a BR-174 e a BR-401, ambas em Roraima, são usadas para traficar jovens para a Venezuela e para a Guiana.
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), relatora da CPI, criticou a omissão do Estado na exploração sexual e tráfico de adolescentes. "O Estado se tornou omisso e, nessas circunstâncias, quem é omisso é conivente."
Na região Sul, o relatório ressalta ocorrências na BR-277, em Foz do Iguaçu (PR), onde traficantes de drogas também estão envolvidos na exploração sexual de meninos e meninas, e na BR-471, entre Chuí e Santa Vitória do Palmar (RS), que é considerada rota para o tráfico de crianças e adolescentes que se prostituem no Uruguai e na Argentina.
No Centro-Oeste, as estradas que exigem reforço de fiscalização são a BR-262, em Corumbá (MS), a BR-463, em Ponta Porã (MS), e a BR-174, na região de Pontes e Lacerda (MT). Nesses trechos, a PRF tem registrado ocorrências de exploração sexual de meninas por turistas que visitam a região pantaneira, exploração de crianças de origem indígena e fluxo descontrolado de pessoas entre a Bolívia, o Paraguai e o Brasil.
"Esse trabalho da PRF foi extremamente importante porque indica os pontos críticos onde são necessárias campanhas intensas de conscientização", disse a socióloga e pesquisadora Marlene Vaz.


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