São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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SAÚDE

Material extraído do cordão umbilical de recém-nascidos é rico em substâncias usadas nos transplantes de medula óssea

Bancos de sangue de cordão são reativados

FERNANDA BASSETTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

O Ministério da Saúde decidiu reativar cinco bancos de sangue de cordão umbilical com parte dos R$ 24 milhões liberados no início do ano para incentivar doação de medula óssea.
Serão beneficiados o banco do Hospital das Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), dos hospitais da USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto e São Paulo, do Hospital Israelita Albert Einstein, também na capital, e do HC da Universidade Federal do Paraná. O valor destinado vai depender do levantamento das necessidades de cada uma das unidades.
O sangue do cordão umbilical é rico em células-tronco, fundamentais para o transplante de medula óssea, feito em pacientes que sofrem de câncer no sangue, principalmente de leucemia. O único banco de sangue de cordão que funciona atualmente é o do Inca (Instituto Nacional do Câncer), no Rio de Janeiro, com cerca de 600 bolsas de sangue congeladas.
A inexistência de uma rede nacional de bancos de sangue de cordão umbilical, que interligaria as informações de doadores compatíveis no país, restringe e dificulta o encontro de pessoas com compatibilidade sangüínea para realização de transplantes.
O diretor do Centro de Transplantes de Medula Óssea do Inca e coordenador do banco de sangue de cordão umbilical do hospital, Luiz Fernando Bouzas, afirmou que a expectativa é que os bancos voltem a coletar as bolsas de sangue no segundo semestre.
"A liberação de recursos agora é uma realidade. A capacidade instalada já existe, basta terminarmos o levantamento das necessidades de cada hospital", afirmou.
Bouzas destacou que aumentar a quantidade de bolsas de sangue de cordão congeladas faz crescer as chances de o paciente encontrar doador compatível e diminui os custos com a importação, que chegam a US$ 32 mil por unidade.
Apesar de ter a infra-estrutura montada há cinco anos, o HC da Unicamp está hoje com 80% de sua capacidade de armazenamento ociosa por conta da falta de dinheiro para investimentos e manutenção do material coletado.
O banco do HC tem estrutura para guardar até mil bolsas de sangue de cordão, mas armazena somente 200. Desde que foi criado, apenas um transplante utilizando sangue de cordão umbilical foi realizado.
A vice-diretora do Hemocentro da Unicamp, Sara Saad, afirma que não foram realizadas mais cirurgias no hospital porque o estoque de bolsas de sangue de cordão ainda é muito pequeno.
Saad diz que a unidade precisa de investimentos da ordem de R$ 700 mil para voltar a coletar sangue de cordão. Apenas a coleta do sangue -feita logo após o parto- custa, em média, R$ 3.000, afirma ela.

Cirurgias no país
Desde 1995, quando foi realizado o primeiro transplante de medula óssea utilizando sangue de cordão umbilical, apenas 90 procedimentos do tipo foram feitos no país por conta da falta de bolsas compatíveis com os pacientes, segundo informações do Inca.
Segundo Bouzas, a cirurgia se fortaleceu em meados de 2000, mas a baixa quantidade de bolsas armazenadas e a falta de um sistema de bancos interligados, dificultava a possibilidade de localização de um doador compatível. "A miscigenação brasileira torna mais difícil encontrar um doador e, por isso, temos de recorrer aos bancos internacionais, que estão mais equipados", disse o diretor.


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