São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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PATRIMÔNIO

Outras 11 obras raras sobre botânica e fauna foram danificadas no Museu Nacional; crime foi descoberto por acaso

Livros dos séculos 17 e 19 são furtados no Rio

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

O Museu Nacional, no Rio de Janeiro, descobriu nesta semana que sua biblioteca teve 13 obras raras roubadas e 11 danificadas. São livros dos séculos 17 e 19 que documentam a botânica e a fauna brasileiras, de autoria de pesquisadores estrangeiros como Hans Staden e Johann Baptist von Spix.
Existem poucos exemplares desses livros no mundo. No Brasil, só a Biblioteca Nacional possui alguns dos títulos. O museu funciona no palácio que serviu de residência para a família real portuguesa e, mais tarde, para os imperadores d. Pedro 1º e d. Pedro 2º.
A Polícia Federal foi informada na terça-feira, mas até ontem não tinha entrado no caso. Segundo a assessoria de comunicação da PF, nos próximos dias será instaurado um inquérito e a Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico fará as investigações.
O sumiço dos livros foi descoberto praticamente por acaso. Na quinta-feira da semana passada, um usuário solicitou "Medicina brasiliensi, libri quatuor" (1648), de Willem Piso. A caixa onde ele ficava estava vazia. Diretora da biblioteca, Laura Maria Gayer Takche resolveu inventariar o acervo de in-fólios, livros de formato grande, com até 70 centímetros de altura. Encontrou mais 12 caixas vazias e 11 exemplares seriamente danificados.
"Os livros roubados foram os que tinham capas originais, como o de Hans Staden, que tem capa de pergaminho. Dos outros, deixaram capas e páginas de texto e levaram gravuras, que são o mais valioso, porque podem ser vendidas como obras de arte", disse ela. "Quem roubou teve critério, sabia exatamente o que estava fazendo. Escolheu obras muito raras, registros fundamentais sobre história natural."
O clima no Museu Nacional ontem era tenso, já que está claro que o autor do crime teve livre acesso à biblioteca durante muito tempo, o que deixa sob suspeita os funcionários. O setor, que reúne 1.700 in-fólios e quase 3.000 livros, tem 17 técnicos. Para consultar os livros raros, mesmo pesquisadores do museu precisam do auxílio de um funcionário da biblioteca.
As portas não foram arrombadas. Como não seria possível carregar in-fólios ou arrancar folhas com estilete durante o horário de funcionamento da biblioteca (2ª a 6ª feira, de 9h às 17h), suspeita-se que o ladrão tinha cópias das chaves e trabalhou à noite ou em fins de semana.
O paleontólogo Sérgio Alex Azevedo disse que, desde que assumiu a direção do museu, há dois anos, tem tentado sensibilizar autoridades para a falta de segurança dos acervos. Já mandou informes e solicitações de recursos para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, que administra o museu, os ministérios da Educação, da Cultura, da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente e para o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), mas nada conseguiu.
"Agora vou ter de instalar quatro câmeras, para que mais livros não sejam roubados. Vou pagar com o dinheiro da bilheteria do museu, que é o único que eu tenho e com o qual sustento a manutenção básica do prédio. Essas câmeras custarão cerca de dois meses de bilheteria", disse Azevedo, que não dispõe de orçamento e precisa pedir recursos à UFRJ para qualquer compra maior.
O último roubo expressivo de in-fólios ocorreu em 1989, quando foram levados 17. Todos foram recuperados, pois tentou-se vendê-los no mercado legal, e os possíveis compradores alertaram o museu. A direção do museu não arrisca um valor para as obras.


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