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PATRIMÔNIO
Outras 11 obras raras sobre botânica e fauna foram danificadas no Museu Nacional; crime foi descoberto por acaso
Livros dos séculos 17 e 19 são furtados no Rio
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
O Museu Nacional, no Rio de Janeiro, descobriu nesta semana
que sua biblioteca teve 13 obras
raras roubadas e 11 danificadas.
São livros dos séculos 17 e 19 que
documentam a botânica e a fauna
brasileiras, de autoria de pesquisadores estrangeiros como Hans
Staden e Johann Baptist von Spix.
Existem poucos exemplares
desses livros no mundo. No Brasil, só a Biblioteca Nacional possui
alguns dos títulos. O museu funciona no palácio que serviu de residência para a família real portuguesa e, mais tarde, para os imperadores d. Pedro 1º e d. Pedro 2º.
A Polícia Federal foi informada
na terça-feira, mas até ontem não
tinha entrado no caso. Segundo a
assessoria de comunicação da PF,
nos próximos dias será instaurado um inquérito e a Delegacia de
Meio Ambiente e Patrimônio
Histórico fará as investigações.
O sumiço dos livros foi descoberto praticamente por acaso. Na
quinta-feira da semana passada,
um usuário solicitou "Medicina
brasiliensi, libri quatuor" (1648),
de Willem Piso. A caixa onde ele
ficava estava vazia. Diretora da biblioteca, Laura Maria Gayer Takche resolveu inventariar o acervo
de in-fólios, livros de formato
grande, com até 70 centímetros de
altura. Encontrou mais 12 caixas
vazias e 11 exemplares seriamente
danificados.
"Os livros roubados foram os
que tinham capas originais, como
o de Hans Staden, que tem capa
de pergaminho. Dos outros, deixaram capas e páginas de texto e
levaram gravuras, que são o mais
valioso, porque podem ser vendidas como obras de arte", disse ela.
"Quem roubou teve critério, sabia
exatamente o que estava fazendo.
Escolheu obras muito raras, registros fundamentais sobre história
natural."
O clima no Museu Nacional ontem era tenso, já que está claro
que o autor do crime teve livre
acesso à biblioteca durante muito
tempo, o que deixa sob suspeita
os funcionários. O setor, que reúne 1.700 in-fólios e quase 3.000 livros, tem 17 técnicos. Para consultar os livros raros, mesmo pesquisadores do museu precisam do
auxílio de um funcionário da biblioteca.
As portas não foram arrombadas. Como não seria possível carregar in-fólios ou arrancar folhas
com estilete durante o horário de
funcionamento da biblioteca (2ª a
6ª feira, de 9h às 17h), suspeita-se
que o ladrão tinha cópias das chaves e trabalhou à noite ou em fins
de semana.
O paleontólogo Sérgio Alex
Azevedo disse que, desde que assumiu a direção do museu, há
dois anos, tem tentado sensibilizar autoridades para a falta de segurança dos acervos. Já mandou
informes e solicitações de recursos para a Universidade Federal
do Rio de Janeiro, que administra
o museu, os ministérios da Educação, da Cultura, da Ciência e
Tecnologia, do Meio Ambiente e
para o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), mas nada conseguiu.
"Agora vou ter de instalar quatro câmeras, para que mais livros
não sejam roubados. Vou pagar
com o dinheiro da bilheteria do
museu, que é o único que eu tenho e com o qual sustento a manutenção básica do prédio. Essas
câmeras custarão cerca de dois
meses de bilheteria", disse Azevedo, que não dispõe de orçamento
e precisa pedir recursos à UFRJ
para qualquer compra maior.
O último roubo expressivo de
in-fólios ocorreu em 1989, quando foram levados 17. Todos foram
recuperados, pois tentou-se vendê-los no mercado legal, e os possíveis compradores alertaram o
museu. A direção do museu não
arrisca um valor para as obras.
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