São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

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Metrô vai investigar contratos feitos com a multinacional Alstom

Decisão foi tomada após reportagem publicada no "Valor" apontar que a empresa é investigada por pagamento de propina no Brasil

Policiais suíços teriam dito a colegas brasileiros suspeitar que US$ 6,8 mi foram pagos como propina pela Alstom para obter contrato do Metrô

DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O Metrô de São Paulo decidiu ontem investigar os contratos firmados com a empresa Alstom entre 1995 e 2003, após reportagem publicada pelo jornal "Valor" sobre a investigação, aberta na França e na Suíça, para apurar indícios de que a multinacional pagava propina para obter contratos no Brasil.
Segundo o diário, que reproduz reportagem do "The Wall Street Journal", policiais suíços, em contato com colegas brasileiros, disseram suspeitar que US$ 6,8 milhões foram pagos como propina pela Alstom para ganhar um contrato de US$ 45 milhões com o Metrô.
Por meio da assessoria de imprensa, a Divisão de Combate a Crimes Financeiros da Polícia Federal, em Brasília, informou que não foi procurada por representantes de polícias da França ou da Suíça para tratar de casos envolvendo a Alstom.
O Ministério Público de Paris abriu um inquérito em novembro de 2007 motivado por uma denúncia da Justiça da Suíça. Em 2004, autoridades suíças descobriram documentos que provavam que 20 milhões destinados a companhias offshore ligadas à Alstom na Suíça e em Liechtenstein passaram pelo Tempus Privatbank AG, um pequeno banco suíço de investimentos, antes de serem transferidos para contas no Brasil, na Venezuela, na Indonésia e em Cingapura.
O escritório de auditoria e consultoria financeira e tributária KPMG, responsável por auditar as contas do Tempus, concluiu que a operação bancária em questão era destinada a financiar atos de corrupção.
Além dessa suspeita, um intermediário de um político brasileiro, não identificado na reportagem, teria pedido comissão de 7,5% da Alstom para facilitar que a empresa firmasse contratos com o Metrô.
O suposto caso de corrupção teria ocorrido nas gestões do governador Mário Covas, que assumiu em 1995, e do ex-governador Geraldo Alckmin, que deixou o cargo em 2006, ambos do PSDB.
Em nota oficial, a companhia afirmou que vai averiguar todos os contratos do período, mas não informou o montante dos contratos em vigor. Já a Alstom nega que tenha por prática pagar propinas.
A Alstom faz parte do consórcio das empreiteiras OAS, Queiroz Galvão e CBPO-que, em 2004, assinou contrato de R$ 1,8 bilhão com o Metrô para o primeiro trecho da linha 4.
Em setembro do ano passado, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) condenou um contrato firmado em março de 1994 pelo Metrô e a multinacional, no valor aproximado de US$ 50 milhões, por conta da inclusão de itens não previstos no edital e da prorrogação por nove anos, através de aditivos.
Em outubro de 2007, a Folha revelou que o Metrô vai gastar R$ 70 milhões a mais na aquisição de 16 trens por ter retomado um contrato de 1992, herdado pela Alstom.
A informação de que o preço seria menor, caso houvesse nova licitação, é da própria multinacional. O valor total é de R$ 500 milhões. O Metrô negou haver prejuízo. O caso está no Tribunal de Contas do Estado.
Ainda segundo o "The Wall Street", as autoridades obtiveram documentos que indicavam que a empresa havia reservado US$ 200 milhões para pagar comissões para fornecer equipamentos de US$ 1,4 bilhão para a hidrelétrica de Itá, na região Sul do país.
A Eletrosul e a Tractebel, por meio de suas assessorias de imprensa, informaram não ter tido vínculos com o processo.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, CINTIA CARDOSO e DIMITRI DO VALLE)

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