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São Paulo, sábado, 07 de junho de 2003

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SAÚDE

Laudo indica "grande quantidade" de substâncias tóxicas em lote de Celobar, medicamento que pode ter matado 21 pessoas

Remédio tinha componente de raticida

Bruno Stuckert/Folha Imagem
Maria Cecília Martins Brito, da Vigilância Sanitária de Goiás, em entrevista ontem em Goiânia


FABIANE LEITE
ENVIADA ESPECIAL A GOIÂNIA

Análise preliminar feita pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) aponta a presença de "grande quantidade" de substâncias químicas altamente tóxicas no lote 3040068 do contraste Celobar, droga do laboratório Enila suspeita de causar a morte de dezenas de pessoas no país.
Uma das substâncias tóxicas, o carbonato de bário, é utilizada em venenos para rato, informou Maria Cecília Martins Brito, superintendente da Vigilância Sanitária de Goiás, Estado que concentra 15 dos 21 óbitos suspeitos.
Um total de 120 pessoas no Estado -incluindo as que morreram- passaram mal depois de tomar Celobar. Uma está internada em estado grave. O Celobar é utilizado para destacar órgãos em exames de imagem.
Os dados divulgados ontem reforçam a suspeita da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de que o laboratório tenha utilizado matéria-prima experimental para fabricar o lote.
Técnicos do órgão encontraram nota fiscal da compra de 600 kg de carbonato de bário na fábrica do Enila em vistoria nesta semana.
O laboratório alegou que era para uma tentativa de sintetizar sulfato de bário a partir do carbonato e que o produto da tentativa teria sido descartado. Segundo a Anvisa, a empresa "não dispõe de capacidade técnica operacional para garantir a pureza da substância após a transformação". Tampouco houve comprovação do descarte do produto.
Segundo a superintendente da vigilância, de 1 g a 15 g de carbonato de bário podem levar à morte. O médico Anthony Wong, coordenador do Ceatox (Centro de Atendimento Toxicológico do Hospital das Clínicas), disse que a substância é "raramente" empregada em raticidas no Brasil. Ele disse não se lembrar de nenhuma intoxicação com o produto.
Segundo José Luiz Miranda Maldonado, assessor-técnico do Conselho Federal de Farmácia, o carbonato de bário é uma matéria-prima da indústria química altamente tóxica, portanto não pode ser usada pela indústria farmacêutica em estado puro.
Além do carbonato, o laudo indica grande quantidade de sulfato e sulfeto de bário.
O sulfeto de bário, explicou Maldonado, é um subproduto do carbonato, um contaminante muito tóxico. Só o sulfato de bário é um produto seguro, insolúvel, que pode ser usado em drogas por não ser absorvido pelo organismo do paciente.

Outro medicamento
A Vigilância Sanitária de Goiás também pediu à Fiocruz análise de um outro contraste, com a mesma aplicação, o Bariogel. O órgão suspendeu um lote do produto no Estado depois que uma paciente morreu após supostamente utilizar o produto.
A Anvisa, no entanto, descarta que o Bariogel possa ter associação com a morte. Segundo a agência, a paciente teria morrido em decorrência do Mal de Chagas.
"A nossa matéria-prima não tem nada a ver com a do outro produto [Celobar]", disse Ogari Castro Pacheco, presidente do laboratório Cristália, fabricante do Bariogel.

Colaboraram AURELIANO BIANCARELLI, da Reportagem Local, e ADRIANA CHAVES, da Agência Folha


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