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BNDES vai ajudar laboratório público
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal vai financiar
os laboratórios farmacêuticos públicos para que eles se modernizem e cumpram as novas regras
de comercialização de medicamentos anunciadas anteontem.
No entanto, vai jogar duro com a
indústria nacional, a mais atingida pelas medidas.
"A indústria sempre quer uma
molezinha", disse ontem o ministro Humberto Costa (Saúde) à
Folha.
Para as empresas, um dos principais custos do pacote é a necessidade de realizar dois testes nos
chamados remédios similares:
biodisponibilidade e equivalência
farmacêutica.
O primeiro teste revela a ação
do princípio ativo no organismo.
O segundo comprova que o efeito
do medicamento similar é idêntico ao do original.
Até antes do anúncio das medidas, esses remédios prometiam
atuação igual à dos originais, mas
não precisavam comprovar isso.
Os testes custam entre R$ 100
mil e R$ 200 mil por medicamento. Segundo a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária),
das 11 mil fórmulas existentes no
mercado, 70% são constituídas
por similares -80% da produção
nacional é constituída por esse tipo de medicamento.
BNDES
Os 18 laboratórios públicos (federais e estaduais) terão acesso a
linhas de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) e a dinheiro
do Tesouro (por meio do orçamento da Saúde).
Ainda não há definição de valores. Já os laboratórios privados de
capital nacional, segundo Costa,
serão analisados "caso a caso".
O presidente da Alanac (Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais), Josimar
Henrique da Silva, disse, por meio
da sua assessoria, que o pacote
"atinge a indústria de forma muito mais grave do que se imagina e
que pode significar o fechamento
de empresas de capital nacional".
Em 2002, o PIB (Produto Interno Bruto) da indústria farmacêutica no Brasil foi de US$ 6 bilhões.
Os laboratórios privados de capital nacional contribuíram com
US$ 2 bilhões. Desses, US$ 1,8 bilhão é oriundo das 60 empresas
associadas à Alanac. Do 1,4 bilhão
de unidades de medicamentos
vendidas no país em 2002, 600 milhões de unidades saíram dos laboratórios nacionais privados.
A participação dos laboratórios
públicos no mercado ainda é tímida: 3 milhões de unidades no
ano passado. O objetivo do governo é aumentar a capacidade das
estatais e fazer com que direcionem suas atividades para produzir os medicamentos de ponta,
que hoje o Brasil importa.
O Lafepe (Laboratório Farmacêutico de Pernambuco), o segundo maior do Brasil, foi o primeiro a entrar com pedido de linha de crédito no BNDES, no dia
4 de abril, antes mesmo do anúncio das medidas: quer R$ 55 milhões para se modernizar e ainda
sobra troco para realizar os testes.
"Quem não se adaptar às novas
regras que saia do mercado", disse o presidente do Lafepe, Guilherme Robalinho. O ministro
Humberto Costa, que também é
pernambucano, afirmou que vai
chamar o presidente da Alanac
para negociar: "É verdade que algumas indústrias terão dificuldades, mas não são todas".
Os laboratórios nacionais empregam 50 mil pessoas.
Costa disse ainda que a Alanac
participou das discussões para a
edição do pacote e que, na negociação, o governo concedeu às
empresas um prazo mais longo
do que o previsto para adaptar os
similares às novas regras. O período varia de 18 meses a 10 anos.
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