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ARTIGO
Avaliando o Exame
Nacional de Cursos
MESSIAS COSTA
O Exame Nacional de Cursos é
uma experiência inovadora e louvável dentro da educação brasileira. Toda atividade humana precisa
ser avaliada, e a educação superior, pela importância que apresenta para o futuro do país e pelo
total de recursos (públicos e privados) que envolve, não pode deixar
de prestar contas à sociedade sobre suas qualidades e defeitos. No
entanto, é de supor que tal iniciativa também deva ser avaliada.
A primeira observação diz respeito ao marketing do exame, que,
logo no início, ganhou o apelido,
até certo ponto depreciativo, de
"provão". Nesse particular, ao
que parece, houve um certo descuido dos organizadores do evento. A falha maior foi a de deixar de
enfatizar, desde o começo, o aspecto avaliativo de tão importante
iniciativa.
Há estudantes que se sentem mal
só de pensar que terão que se submeter a um teste. Em vez de Exame
Nacional de Cursos, talvez tivesse
sido melhor escolher um nome como Avaliação Nacional de Cursos
para a Melhoria do Ensino Superior, ou coisa semelhante.
Outra consideração que precisa
ser feita -mais importante- diz
respeito à interpretação dos resultados divulgados.
O estudante -elemento por
meio do qual é feita a avaliação das
faculdades e dos cursos- é ao
mesmo tempo insumo e produto
dentro desse processo de avaliação. Os resultados divulgados pela
imprensa só consideram o aluno-produto, não levando em conta o aluno-insumo. Dessa forma, o
resultado de uma dada escola que
tenha se saído bem nos exames é
altamente explicável pela já "boa"
qualidade do aluno quando de seu
ingresso por meio do vestibular.
Por essa razão, uma avaliação
mais justa e correta dos cursos e
das faculdades por exames aplicados nos alunos precisaria estabelecer um "controle estatístico" da
influência do potencial inicial do
aluno sobre o resultado final, como o do provão.
Esse potencial deveria ainda ser
medido por um mesmo instrumento administrado por ocasião
do vestibular ou de algum outro
exame aplicado no primeiro ano
da faculdade. Ou seja, a nota obtida em um exame de saída (tipo
provão) precisaria ser "corrigida"
pela nota alcançada em algum exame de entrada.
Sem essa providência, a comparabilidade dos resultados do Exame Nacional de Cursos fica falha,
uma vez que, da forma como ela
tem sido feita, parte-se do pressuposto de que os alunos eram todos
iguais no início dos seus cursos superiores. E esse pressuposto é indiscutivelmente falso.
Em resumo, é preciso muita cautela na avaliação dos cursos e faculdades por meio das notas obtidas pelos estudantes. Não se pretende, com isso, tirar o mérito das
faculdades que obtiveram bons resultados no Exame Nacional de
Cursos nem justificar a baixa realização das demais. Os resultados
obtidos são importantes como
diagnóstico da situação do ensino
superior, mas não são suficientes
para mostrar qual é a melhor ou a
pior escola superior.
A advertência é tão-somente
destinada a chamar a atenção de
todos para a relatividade dos números e, consequentemente, para
o cuidado que se deve ter com a
interpretação apressada dos resultados publicados.
Messias Costa, 53, é doutor pela Universidade
de Stanford (EUA) e professor-adjunto na Universidade de Brasília.
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