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Para escapar da PF, acusado foge para Distrito Policial
"Fui para o 28º DP com o policial", diz empresário suspeito de contrabando, revela escuta
Gravações apontam
ainda pagamento a policiais
do DP para evitar flagrante
e negociações com
agentes de Cotia e Embu
MARIO CESAR CARVALHO
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Se fosse uma comédia maluca, ao estilo das feitas por Jerry
Lewis, poderia se chamar "Fuga para o Distrito". Como se
trata de uma história real, é melhor pensar em algo mais sério,
do tipo "Corrupção Sem Limites". Acusado de contrabandear cigarros do Paraguai para
o Brasil, o empresário Juscelino Timóteo da Silva fugiu para
o 28º Distrito Policial, na Freguesia do Ó (zona norte de São
Paulo), para escapar da Polícia
Federal, segundo escutas telefônicas feitas durante a Operação Bola de Fogo.
Quem levou Juscelino para o
28º DP foi um policial civil que
dava proteção a uma carreta
com cigarros paraguaios, de
acordo com as conversas telefônicas do próprio empresário
(leia texto na pág. C4). Os cigarros foram fabricados pela Tabacalera Sudan, que pertence à
empresa brasileira Sudamax.
"Fui para o 28º DP com o policial", conta Juscelino num telefonema feito no dia 24 de julho do ano passado.
Antes, ele narra o pega-pra-capar em que havia se metido:
"Macho, pegaram todo mundo
lá", inicia. "Quando cheguei no
posto para pegar a carreta, o
motorista da carreta estava
conversando com o cara do
Golf e já fiquei desconfiado (...).
Fui no shopping buscar o policial que eu combinei para dar
proteção. Então, quando nós
estávamos no fundo do estacionamento, escutamos só os gritos: "Polícia! Polícia! Deita! Deita!" Aí eu e o policial pulamos o
muro pelos fundos e saí fora
mais o polícia". Foi então que
fugiram para o 28º distrito.
A fuga para o DP não é a única
referência à corrupção na Polícia Civil captada pelas escutas
da Operação Bola de Fogo, uma
investigação da PF sobre contrabando de cigarros que teve,
entre outros resultados, o bloqueio de R$ 400 milhões.
Há menção a pagamento de
R$ 3.000 a policiais do 28º DP,
em julho do ano passado, para
evitar um flagrante de contrabando a um funcionário do grupo e negociações entre o grupo
e policiais de Cotia e Embu, na
Grande São Paulo. Não há flagrante de contrabando de cigarro no 28º DP nessa época,
diz a Secretaria de Segurança.
Nessas conversas, o grupo
trata aparentemente do pagamento para investigadores e
delegados para que um galpão
que recebe cigarros contrabandeados não seja importunado
pela Polícia Civil. O depósito só
é alugado depois de o grupo fazer o aparente acordo.
A negociação começa com a
suposta quadrilha buscando
um galpão para alugar na região
de Cotia. No dia 26 de junho,
Giovani Marques de Almeida,
apontado pela PF como um dos
"gerentes" do grupo, liga para o
número da delegacia de Cotia e
fala com Édes.
Nessa delegacia existe um escrivão chamado Édes Ferreira
Lopes, que está sob investigação da corregedoria por suspeita de favorecer contrabandistas
de cigarro. Ele diz que nunca
protegeu contrabandistas.
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