São Paulo, sábado, 07 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para escapar da PF, acusado foge para Distrito Policial

"Fui para o 28º DP com o policial", diz empresário suspeito de contrabando, revela escuta

Gravações apontam ainda pagamento a policiais do DP para evitar flagrante e negociações com agentes de Cotia e Embu

MARIO CESAR CARVALHO
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Se fosse uma comédia maluca, ao estilo das feitas por Jerry Lewis, poderia se chamar "Fuga para o Distrito". Como se trata de uma história real, é melhor pensar em algo mais sério, do tipo "Corrupção Sem Limites". Acusado de contrabandear cigarros do Paraguai para o Brasil, o empresário Juscelino Timóteo da Silva fugiu para o 28º Distrito Policial, na Freguesia do Ó (zona norte de São Paulo), para escapar da Polícia Federal, segundo escutas telefônicas feitas durante a Operação Bola de Fogo.
Quem levou Juscelino para o 28º DP foi um policial civil que dava proteção a uma carreta com cigarros paraguaios, de acordo com as conversas telefônicas do próprio empresário (leia texto na pág. C4). Os cigarros foram fabricados pela Tabacalera Sudan, que pertence à empresa brasileira Sudamax.
"Fui para o 28º DP com o policial", conta Juscelino num telefonema feito no dia 24 de julho do ano passado.
Antes, ele narra o pega-pra-capar em que havia se metido: "Macho, pegaram todo mundo lá", inicia. "Quando cheguei no posto para pegar a carreta, o motorista da carreta estava conversando com o cara do Golf e já fiquei desconfiado (...). Fui no shopping buscar o policial que eu combinei para dar proteção. Então, quando nós estávamos no fundo do estacionamento, escutamos só os gritos: "Polícia! Polícia! Deita! Deita!" Aí eu e o policial pulamos o muro pelos fundos e saí fora mais o polícia". Foi então que fugiram para o 28º distrito.
A fuga para o DP não é a única referência à corrupção na Polícia Civil captada pelas escutas da Operação Bola de Fogo, uma investigação da PF sobre contrabando de cigarros que teve, entre outros resultados, o bloqueio de R$ 400 milhões.
Há menção a pagamento de R$ 3.000 a policiais do 28º DP, em julho do ano passado, para evitar um flagrante de contrabando a um funcionário do grupo e negociações entre o grupo e policiais de Cotia e Embu, na Grande São Paulo. Não há flagrante de contrabando de cigarro no 28º DP nessa época, diz a Secretaria de Segurança.
Nessas conversas, o grupo trata aparentemente do pagamento para investigadores e delegados para que um galpão que recebe cigarros contrabandeados não seja importunado pela Polícia Civil. O depósito só é alugado depois de o grupo fazer o aparente acordo.
A negociação começa com a suposta quadrilha buscando um galpão para alugar na região de Cotia. No dia 26 de junho, Giovani Marques de Almeida, apontado pela PF como um dos "gerentes" do grupo, liga para o número da delegacia de Cotia e fala com Édes.
Nessa delegacia existe um escrivão chamado Édes Ferreira Lopes, que está sob investigação da corregedoria por suspeita de favorecer contrabandistas de cigarro. Ele diz que nunca protegeu contrabandistas.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Escutas apontam "mensalão" para DPs de Embu e Cotia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.