São Paulo, sábado, 07 de julho de 2007

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Escutas apontam "mensalão" para DPs de Embu e Cotia

Em gravação, gerente de suposta quadrilha explica valores

DA REPORTAGEM LOCAL

As interceptações telefônicas da Polícia Federal revelam uma versão completamente diferente da contada pelo escrivão Édes Ferreira Lopes. Pelas conversas, ele teria recebido R$ 1.000 por mês para intermediar uma negociação com a Polícia Civil do Embu.
Num dos grampos, Giovani Marques de Almeida, apontado como gerente da suposta quadrilha, diz para um personagem chamado doutor Cordeiro: "São R$ 3.000 para o pessoal do Embu mais R$ 1.000 para o pessoal de Cotia, que indicou o DP do Embu".
Doutor Cordeiro é citado num relatório da PF de Mato Grosso do Sul, que conduziu a investigação, como o advogado que intermediava o pagamento de propinas a policiais. Essa conversa ocorreu no dia 4 de julho do ano passado, às 17h47.
Duas horas antes, Giovani tinha ligado para Édes. O escrivão afirma que "é bom ir hoje que o chefe está esperando". Recomenda a Giovani "mandar o doutor Cordeiro até a delegacia de Cotia para irem juntos até a delegacia do Embu para fechar o acordo".
O doutor Cordeiro diz, numa conversa interceptada: "O delegado da Polícia Civil do Embu, doutor Osmar, é meu conhecido. Lá foi só alegria".
Não existe nenhum delegado com esse nome no Embu. Há, porém, um agente do Garra chamado Osmar. Garra é o Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos, do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado.
O acordo entre o grupo e os policiais deu certo, aparentemente. Vinte dias depois, Giovani diz a um integrante do grupo que lhe avisa da chegada da mercadoria: "Fechei com o pessoal da Civil do Embu e vão fazer a escolta de tudo".
No dia 27 de julho do ano passado, a Polícia Federal apreende um caminhão com cigarros contrabandeados em Carapicuíba e prende Giovani -a carga estava encoberta por pacotes de biscoitos.
No dia seguinte, o escrivão liga para Giovani e descobre por meio da mulher dele que o gerente fora preso na véspera pela PF. Nesse dia, chegara ao depósito um novo caminhão com cigarros contrabandeados e quem o recebe é o escrivão, segundo relatório da PF.
Éder quer saber o que fazer com a carreta e a mulher de Giovani recomenda "passar para a frente" a carga.
Consulta feita pela Folha no 1º Distrito Policial de Carapicuíba, onde poderia existir um boletim de ocorrência com a apreensão do segundo caminhão, mostra que não há registro desse tipo naquela data.
Apesar de estar sob investigação da corregedoria, Édes não foi afastado de sua função (leia texto ao lado).
O ex-delegado Romeu Tuma Jr., que dirigiu a seccional de Taboão da Serra entre 2000 e 2002, diz que a ligação da polícia da região com o crime organizado é antiga.
"Tive de afastar nove policiais por causa disso. Um grupo protegia uma quadrilha que roubava cargas. Fui até ameaçado de morte", afirma.
A investigação da polícia mostra que a compra de policiais pelo grupo acusado de contrabando ocorria em quase todo o país. Há interceptações que sugerem o pagamento de propina a policiais rodoviários de São Paulo, do Rio, do Pará e do Maranhão. (MARIO CESAR CARVALHO e RUBENS VALENTE)


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