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Escutas apontam "mensalão" para DPs de Embu e Cotia
Em gravação, gerente de suposta quadrilha explica valores
DA REPORTAGEM LOCAL
As interceptações telefônicas
da Polícia Federal revelam uma
versão completamente diferente da contada pelo escrivão
Édes Ferreira Lopes. Pelas conversas, ele teria recebido R$
1.000 por mês para intermediar uma negociação com a Polícia Civil do Embu.
Num dos grampos, Giovani
Marques de Almeida, apontado
como gerente da suposta quadrilha, diz para um personagem chamado doutor Cordeiro:
"São R$ 3.000 para o pessoal do
Embu mais R$ 1.000 para o
pessoal de Cotia, que indicou o
DP do Embu".
Doutor Cordeiro é citado
num relatório da PF de Mato
Grosso do Sul, que conduziu a
investigação, como o advogado
que intermediava o pagamento
de propinas a policiais. Essa
conversa ocorreu no dia 4 de julho do ano passado, às 17h47.
Duas horas antes, Giovani tinha ligado para Édes. O escrivão afirma que "é bom ir hoje
que o chefe está esperando".
Recomenda a Giovani "mandar
o doutor Cordeiro até a delegacia de Cotia para irem juntos
até a delegacia do Embu para
fechar o acordo".
O doutor Cordeiro diz, numa
conversa interceptada: "O delegado da Polícia Civil do Embu,
doutor Osmar, é meu conhecido. Lá foi só alegria".
Não existe nenhum delegado
com esse nome no Embu. Há,
porém, um agente do Garra
chamado Osmar. Garra é o
Grupo Armado de Repressão a
Roubos e Assaltos, do Departamento de Investigações sobre o
Crime Organizado.
O acordo entre o grupo e os
policiais deu certo, aparentemente. Vinte dias depois, Giovani diz a um integrante do grupo que lhe avisa da chegada da
mercadoria: "Fechei com o pessoal da Civil do Embu e vão fazer a escolta de tudo".
No dia 27 de julho do ano
passado, a Polícia Federal
apreende um caminhão com cigarros contrabandeados em
Carapicuíba e prende Giovani
-a carga estava encoberta por
pacotes de biscoitos.
No dia seguinte, o escrivão liga para Giovani e descobre por
meio da mulher dele que o gerente fora preso na véspera pela PF. Nesse dia, chegara ao depósito um novo caminhão com
cigarros contrabandeados e
quem o recebe é o escrivão, segundo relatório da PF.
Éder quer saber o que fazer
com a carreta e a mulher de
Giovani recomenda "passar para a frente" a carga.
Consulta feita pela Folha no
1º Distrito Policial de Carapicuíba, onde poderia existir um
boletim de ocorrência com a
apreensão do segundo caminhão, mostra que não há registro desse tipo naquela data.
Apesar de estar sob investigação da corregedoria, Édes
não foi afastado de sua função
(leia texto ao lado).
O ex-delegado Romeu Tuma
Jr., que dirigiu a seccional de
Taboão da Serra entre 2000 e
2002, diz que a ligação da polícia da região com o crime organizado é antiga.
"Tive de afastar nove policiais por causa disso. Um grupo
protegia uma quadrilha que
roubava cargas. Fui até ameaçado de morte", afirma.
A investigação da polícia
mostra que a compra de policiais pelo grupo acusado de
contrabando ocorria em quase
todo o país. Há interceptações
que sugerem o pagamento de
propina a policiais rodoviários
de São Paulo, do Rio, do Pará e
do Maranhão.
(MARIO CESAR CARVALHO e RUBENS VALENTE)
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