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Delegado agora acumula distritos em SP
Reforma estrutural faz delegados da cidade atenderem a duas delegacias; no novo sistema, parte dos DPs fecha durante a noite
Quando busca atendimento nos distritos fechados, o cidadão é orientado a ir a outro DP; mudanças visam melhorar as investigações
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
MOACYR LOPES JUNIOR
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
Em processo de reestruturação, as 93 delegacias da Polícia
Civil de São Paulo passaram a
atender nos últimos dias em
sistema compartilhado: um delegado acumula a responsabilidade sobre dois distritos durante um plantão de 12 horas,
seja de dia ou à noite.
No sistema "casadinha", como policiais chamam as mudanças, parte das delegacias da
capital, sobretudo na periferia,
é fechada a partir das 20h e só
reabre às 8h do dia seguinte.
As mudanças ocorrem num
momento em que o Estado enfrenta alta na criminalidade,
segundo dados do primeiro trimestre divulgados pelo governo José Serra (PSDB). Os roubos cresceram 19,13% em relação a igual período de 2008. Latrocínios (36%) e estupros
(33,5%) também subiram. No
caso dos homicídios, que vêm
caindo nos últimos anos, a alta
ficou em 0,7%.
Segundo a polícia, o remanejamento do efetivo visa melhorar a qualidade da investigação
e dar mais tempo aos delegados
para se dedicarem à tarefa.
A medida faz com que o cidadão seja orientado a procurar
outro DP quando se depara
com uma unidade fechada.
O delegado monitora à distância -por telefone ou computador- as ocorrências do segundo distrito. Somente nos
casos considerados mais graves, como homicídio ou prisão
em flagrante, ele se desloca.
A Folha percorreu delegacias e constatou problemas no
novo sistema: demora para registrar ocorrências, BOs entregues sem a assinatura do delegado e até mesmo a recusa de
policiais do 72º DP (Vila Penteado) em registrar um roubo.
Segundo Marco Antonio de
Paula Santos, chefe dos DPs da
capital, os problemas "são decorrentes da fase de implementação do projeto".
Para o ex-juiz Luiz Flávio
Gomes, doutor em direito penal pela Universidade Complutense de Madri e mestre em direito penal pela USP, o novo
sistema tem falhas graves. "Um
boletim de ocorrência sem a
assinatura do delegado é um
pedaço de papel como qualquer outro", diz.
O presidente da Associação
dos Delegados de SP, Sérgio
Roque, é contra o fechamento
de distritos. "Quero ver quem
tem coragem de fechar delegacias nos bairros de classe média
alta. A polícia precisa estar perto de todos, o tempo todo", diz.
Não há lei que obrigue o Estado a manter um número mínimo de delegacias abertas. E o
cidadão pode registrar qualquer crime em qualquer delegacia, e não só na circunscrição
onde o fato ocorreu.
Porta trancada
O atendimento no 12º DP, no
Pari (região central), não existiu na madrugada de sexta. Dois
funcionários assistiam à TV e
informavam que o atendimento seria feito no 2º DP (Bom Retiro), a cerca de 4,5 km.
A empresária Shirley da Silva
Dantas, 26, teve o furgão Fiorino de sua empresa roubado na
região do Grajaú, extremo sul
da capital, e registrou o crime
no 101º DP (Jardim Embuias).
No dia seguinte, recebeu uma
ligação informando sobre a localização do carro na região do
80º DP (Vila Joaniza). A empresária chegou ao distrito às
14h, mas só conseguiu retirar o
carro às 2h do dia seguinte.
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